São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011 |
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Mosquito imune à dengue elimina os rivais na Austrália Bactéria foi usada para 'vacinar' inseto porque é capaz de destruir o vírus causador da doença no organismo Teste é o primeiro a ter sucesso na natureza; pesquisadores já falam em aplicar a ideia na Ásia e no Brasil RICARDO BONALUME NETO DE SÃO PAULO Pela primeira vez na história, pesquisadores conseguiram transformar uma população selvagem de insetos de modo a reduzir sua capacidade de transmitir doenças. O feito aconteceu justamente com um dos maiores problemas de saúde pública do planeta: o mosquito transmissor da dengue. A equipe de pesquisadores na Austrália, que contou com a participação de um cientista brasileiro, precisou de cem dias para substituir quase todos os mosquitos transmissores da doença em duas localidades por outros incapazes de carregar a dengue. Em dois artigos na edição de hoje da revista científica "Nature", o grupo mostra como conseguiu bloquear a transmissão do vírus ao infectar os mosquitos com a wMel, uma variante da bactéria Wolbachia. "Muitos estudos parariam por aí. Mas os pesquisadores deram o próximo e surpreendente passo de tentar a liberação de mosquitos infectados com a Wolbachia no campo, e o fizeram no seu próprio quintal", comentou, em artigo na mesma edição da revista, o pesquisador Jason L. Rasgon, da Universidade Johns Hopkins (EUA). O primeiro artigo, que teve a participação de Luciano Andrade Moreira, do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fiocruz de Minas, "trata mais da caracterização da cepa da bactéria. Foi a nossa segunda investida em colocar a bactéria no mosquito", disse o cientista brasileiro à Folha. "As moscas-das-frutas têm a mesma cepa no mundo inteiro", diz Moreira, cuja parte no estudo era checar se a saliva do mosquito continha ou não o vírus da dengue, e se a bactéria conseguia bloquear a infecção. "Mostramos que bloqueou", diz ele. REVOADA O estudo já durava vários anos e culminou com a liberação de quase 300 mil mosquitos contendo a cepa wMel em duas pequenas localidades de Queensland, nordeste da Austrália. Yorkeys Knob, com apenas 614 casas, e Gordonvale, com 668 residências, receberam os novos moradores alados. Foram feitos cinco lançamentos de mosquitos a cada dez dias nesses lugarejos. Os resultados foram espetaculares. Em Yorkeys Knob os mosquitos com a bactéria substituíram os locais em quase 100%. Em Gordonvale, passaram a ser mais de 80% da população do inseto. Os mosquitos "vacinados" se reproduziram mais porque a Wolbachia usa um truque sujo para se espalhar. Machos infectados que cruzarem com fêmeas sem a bactéria geram filhotes que morrem ainda na fase embrionária. Já as fêmeas com a Wolbachia se reproduzem sem problemas tanto com machos infectados quanto com os não infectados. Como a bactéria é transmitida da mãe para os filhotes, a combinação de fatores favorece os infectados. Moreira ressalta que essa dinâmica foi levada em conta a cada passo dado pelos cientistas. "Houve uma criteriosa análise de risco, envolvendo revisores externos, que durou dois anos", conta. O próximo passo é checar, na estação chuvosa, se o efeito da substituição de mosquitos permaneceu constante. Estão sendo planejadas liberações semelhantes no Vietnã, na Tailândia e na Indonésia; o Brasil também pode ser incluído em um estudo futuro. "Estamos em negociações preliminares com o Ministério da Saúde", afirma o pesquisador brasileiro. Próximo Texto: Fóssil é mais antigo mamífero com placenta Índice | Comunicar Erros |
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