São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula e Alckmin se igualam em metas para área científica

Para especialistas em política de ciência, candidatos darão continuidade a projetos para colocar a inovação em foco

Pesquisadores ouvidos pela Folha dizem que promessas terão de contar com verbas de fundo para ciência que hoje são retidas na Fazenda

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se ainda não está claro o quanto o PT e o PSDB são parecidos em ideologia, pelo menos na política científica as duas legendas já quase não se distinguem. A pedido da Folha, quatro especialistas em gestão na área de ciência e tecnologia leram os programas de governo dos candidatos a presidente Lula e Alckmin. Para eles, as propostas de ambos para o setor não diferem no bojo.
Os dois programas mantêm foco na inovação, a pesquisa para criação e aprimoramento de bens tecnológicos. Como o Brasil tem boa posição no ranking mundial de produção de artigos científicos (é o 17º) mas não no de patentes (27º), é consenso que possui um potencial inexplorado de inovação.
"Essa preocupação dos dois candidatos mostra que houve uma mudança cultural no país nos últimos dez anos", diz José Fernando Perez, ex-diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Agora há algo mais próximo de uma política de Estado, com visão de longo prazo, em oposição à política de governo." Para ele, a disputa se dá na prática de gestão e liberação de recursos.
Os cientistas ouvidos pela Folha, porém, foram unânimes em dizer que para atingir as metas propostas o país precisa de todos os recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), que hoje está com 60% da verba retida para engrossar o superávit primário.
"Se começarmos a enxergar que esse tipo de recurso é investimento -porque conhecimento é investimento- vamos ver que ele vai trabalhar a favor do superávit", diz Jorge Bounassar Filho, presidente do Fórum das Fundações de Amparo à Pesquisa. Ambos os candidatos prometem seguir um cronograma para liberar a verba aos poucos até 2010.
Em seu programa, Lula também prevê maior papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no fomento à ciência. "A inserção do BNDES é fundamental para a ciência não ser uma figura de retórica no governo", diz Ennio Candotti, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Com relação ao foco em inovação, Candotti o considera bom, mas diz que o país tem de se preparar para o risco de uma mecanização maior afetar o nível de emprego.
Para Hugo Resende, presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras), a liberação de verbas não resolve tudo sozinha. É preciso criar incentivos para que a cultura científica cresça nas empresas -e já existem meios para isso. "O principal é a subvenção econômica, que facilita a contratação de equipes de desenvolvimento (...) para permitir criar produtos que atendam às necessidades de mercado", afirma.


Texto Anterior: Rio Amazonas anda na contramão, diz geóloga
Próximo Texto: Opinião: Eleito precisa liberar verba retida de C&T
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.