São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2000

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METEOROLOGIA
Experimento gerou duas descargas seguidas durante tempestade
Brasileiros produzem raio artificial

SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Diz-se que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas um experimento internacional envolvendo pesquisadores brasileiros, franceses e canadenses demonstrou que não é bem assim. Eles conseguiram gerar no início da noite de anteontem os dois primeiros raios artificialmente induzidos em uma região tropical.
O lugar, no caso, foi a base de lançamentos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em Cachoeira Paulista (SP).
Os pesquisadores lançaram um foguete com um fio condutor em direção a uma nuvem de tempestade. O experimento parece uma versão tecnológica da famosa experiência do norte-americano Benjamin Franklin, o inventor do pára-raios, quando empinou uma pipa com uma chave amarrada ao fio durante uma tempestade.
Na ocasião, o inventor queria provar que os raios eram feitos de pura eletricidade. Agora, o objetivo é entender melhor a natureza dessa violenta descarga elétrica.
O experimento funciona aumentando o potencial para o surgimento do raio. "A presença do fio intensifica os campos elétricos que já existem embaixo da nuvem, fazendo com que o raio se forme", disse Osmar Pinto Junior, chefe do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe, responsável pela coordenação do estudo.
O foguete não precisou chegar até a nuvem para se fazer notado. Apesar de a nuvem estar a cerca de mil metros de altura, quando o projétil atingiu 300 m, já gerou interferência suficiente no campo elétrico para induzir um raio.
Os cientistas esperam com os resultados poder estudar melhor a natureza desse fenômeno. "Podemos obter dados bem de perto, já que sabemos onde o raio irá cair", afirma o coordenador da pesquisa, que envolve, além do Inpe, a Unicamp, empresas e universidades da França e um instituto do Canadá.
Segundo o pesquisador, hoje em dia há apenas dois outros centros similares ao de Cachoeira Paulista para o estudo de raios no mundo. Um deles fica na China e o outro, na Flórida (EUA).
Os raios induzidos anteontem pelos pesquisadores ocorreram em sequência. Os fenômenos foram observados por volta das 19h, de dois postos diferentes. Um deles ficava a 50 m da base de lançamentos, e o outro, a 500 m.
Os resultados vieram na segunda bateria de tentativas. A primeira ocorreu em fevereiro de 1999, logo que o centro foi concluído.



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