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METEOROLOGIA
Experimento gerou duas descargas seguidas durante tempestade
Brasileiros produzem raio artificial
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Diz-se que um raio não cai duas
vezes no mesmo lugar, mas um
experimento internacional envolvendo pesquisadores brasileiros,
franceses e canadenses demonstrou que não é bem assim. Eles
conseguiram gerar no início da
noite de anteontem os dois primeiros raios artificialmente induzidos em uma região tropical.
O lugar, no caso, foi a base de
lançamentos do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais)
em Cachoeira Paulista (SP).
Os pesquisadores lançaram um
foguete com um fio condutor em
direção a uma nuvem de tempestade. O experimento parece uma
versão tecnológica da famosa experiência do norte-americano
Benjamin Franklin, o inventor do
pára-raios, quando empinou uma
pipa com uma chave amarrada ao
fio durante uma tempestade.
Na ocasião, o inventor queria
provar que os raios eram feitos de
pura eletricidade. Agora, o objetivo é entender melhor a natureza
dessa violenta descarga elétrica.
O experimento funciona aumentando o potencial para o surgimento do raio. "A presença do
fio intensifica os campos elétricos
que já existem embaixo da nuvem, fazendo com que o raio se
forme", disse Osmar Pinto Junior,
chefe do Grupo de Eletricidade
Atmosférica do Inpe, responsável
pela coordenação do estudo.
O foguete não precisou chegar
até a nuvem para se fazer notado.
Apesar de a nuvem estar a cerca
de mil metros de altura, quando o
projétil atingiu 300 m, já gerou interferência suficiente no campo
elétrico para induzir um raio.
Os cientistas esperam com os
resultados poder estudar melhor
a natureza desse fenômeno. "Podemos obter dados bem de perto,
já que sabemos onde o raio irá
cair", afirma o coordenador da
pesquisa, que envolve, além do
Inpe, a Unicamp, empresas e universidades da França e um instituto do Canadá.
Segundo o pesquisador, hoje
em dia há apenas dois outros centros similares ao de Cachoeira
Paulista para o estudo de raios no
mundo. Um deles fica na China e
o outro, na Flórida (EUA).
Os raios induzidos anteontem
pelos pesquisadores ocorreram
em sequência. Os fenômenos foram observados por volta das 19h,
de dois postos diferentes. Um deles ficava a 50 m da base de lançamentos, e o outro, a 500 m.
Os resultados vieram na segunda bateria de tentativas. A primeira ocorreu em fevereiro de 1999,
logo que o centro foi concluído.
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