São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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ESPAÇO

Missão Rosetta quer ser a primeira a entrar em órbita de um astro desse tipo e pousar nele; chegada ocorre em 2014

Europeus iniciam hoje caça a cometa

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com mais de um ano de atraso, a ESA (Agência Espacial Européia) começa hoje oficialmente sua temporada de caça aos cometas. Se tudo correr bem, a Rosetta deve se tornar a primeira missão a se colocar em torno de um objeto desse tipo e até mesmo promover um pouso em sua superfície.
O lançamento estava marcado para as 4h36 de hoje, a partir de Kourou, na Guiana Francesa. Os envolvidos na missão estão confiantes de que, desta vez, a tentativa de colocar a nave em seu caminho redundará em sucesso. "Estou muito confiante no lançamento do Ariane-5", diz Uwe Meierhenrich, um dos cientistas envolvidos na missão.
A Rosetta deveria ter sido lançada em janeiro do ano passado, mas problemas com o Ariane-5 levaram a um adiamento da missão, o que causou grandes dificuldades. Originalmente, a sonda iria visitar o cometa 46P/Wirtanen, aonde chegaria em 2011.
Com o atraso, os cientistas foram obrigados a trocar o alvo da missão. Agora a nave deve rumar para o 67P/Churyumov-Gerasimenko, um objeto maior e mais ativo. E a chegada só ocorrerá em 2014, após uma complexa série de manobras.
Os cometas são tidos como resquícios de uma época muito antiga do Sistema Solar, em que os planetas estavam começando a se formar. São compostos basicamente de gelo e rocha. Quando se aproximam do Sol, a vaporização do gelo provoca o surgimento das famosas caudas, pelas quais adquiriram notoriedade. Desde épocas remotas, seu surgimento no céu foi rotineiramente tido como um sinal de má sorte.
Atualmente, entretanto, esses astros são muito mais prestigiados. Os cientistas acreditam que podem usá-los como referência para decifrar os mistérios mais antigos do Sistema Solar. Daí o nome da missão -a Pedra de Rosetta foi o achado arqueológico que permitiu que os estudiosos decifrassem o significado dos antigos hieróglifos egípcios.
Se a missão da nova Rosetta for bem-sucedida, poderá elucidar até mesmo questões mais agudas, como o processo que levou ao surgimento da vida. Há quem diga que o impacto de cometas em uma época remota foi o responsável pelo transporte dos compostos que permitiram que seres vivos surgissem por aqui.
"Uma meta central da Rosetta é identificar estruturas de aminoácidos em gelo cometário, in situ, e os aminoácidos são os tijolos moleculares das proteínas", afirma Meierhenrich. Para isso, um pequeno módulo de pouso, chamado Philae, deve descer até a superfície para fazer análises do solo.
Embora a descoberta de vida em cometas não faça parte das expectativas, os cientistas estão prontos para o inesperado. "Não esperamos encontrar aminoácidos que sejam resquícios de vida", diz o alemão. "Entretanto, nossa instrumentação seria capaz de distinguir entre resquícios e precursores moleculares da vida."
E não é só a ESA que está interessada no estudo de cometas. A Nasa (agência espacial americana) recentemente anunciou o sucesso da sonda Stardust, que coletou partículas da cauda de um cometa. E uma outra missão, chamada Deep Impact, deve ser lançada no final do ano. Seu objetivo: chocar-se contra o cometa 9P/ Tempel 1 e tentar observar as características de seu interior.


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