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Astrônomos capturam estrela cadente
Meteoritos encontrados no Sudão são restos de asteroide que teve sua colisão com a Terra monitorada por telescópios
Estudo realça dificuldade de estudar objetos em órbita de colisão; para cientista, área de pesquisa precisa ter mais dinheiro que cineastas
Peter Jennisken
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PEDRINHA: Um dos meteoritos que restaram da explosão do asteróide TC3 na atmosfera da Terra. Apenas 47 fragmentos com menos de um quilo cada foram achados numa expedição
DA REPORTAGEM LOCAL
Se um asteroide do tamanho
de uma cidade estiver em rota
de colisão com a Terra, cientistas ainda não sabem o que fazer
para evitar uma catástrofe. A
tecnologia para deixar o mundo
em pânico na véspera, porém,
já existe. Cientistas relataram
ontem ter recuperado destroços de um asteroide que teve
sua trombada com o planeta
prevista e confirmada com 20
horas de antecedência.
Na prática, foi a primeira vez
que astrônomos conseguiram
capturar uma estrela cadente
-expressão da qual astrônomos não gostam porque, claro,
um meteoro não é uma estrela.
Neste caso, os destroços do asteroide 2008 TC3 é que foram
achados no Sudão, após o bólido explodir na atmosfera da
Terra a 37 km de altitude.
Poucos astrônomos apostavam que tivesse sobrado algo
do asteroide para contar história, mas Peter Jenniskens, do
Instituto Seti, da Califórnia, organizou uma expedição ao local e recuperou 47 fragmentos.
O feito sem precedentes é descrito em estudo na edição de
hoje da revista "Nature".
A sorte com o impacto do
TC3 -com 80 toneladas e o tamanho de um carro- é que ele
não era nem de longe algo como o asteroide que possivelmente extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos. Como quase todo o asteroide foi
pulverizado desta vez, os fragmentos de Jenniskens somam
apenas cerca de quatro quilos.
Antes da colisão, o TC3 foi
classificado como um asteroide
tipo F, categoria atribuída de
acordo com seu brilho. Analisando a luz de asteroides, cientistas tentam determinar quais
substâncias os compõem, mas
o trabalho é difícil porque esses
rochedos voadores em geral estão cobertos de poeira que encobre sua superfície.
No estudo da "Nature", Jenniskens e seus colegas mostram que o TC3 não tinha esse
tipo de problema, e que sua
composição estimada apenas
pelo espectro de sua luz era
bastante similar àquela vista
nos meteoritos em laboratório.
A maior parte do asteroide é
composta do mineral ureilita,
já catalogado, mas estruturado
de uma maneira jamais vista.
"É um material tão frágil que
nunca havia sido representado
em coleções de meteoritos", escrevem os cientistas. Isso significa que mesmo o impacto de
um asteroide tipo F um pouco
maior não traria risco à vida na
Terra, pois se fragmentaria
com facilidade na atmosfera.
Chamem o Bruce Willis
O risco e a rota de colisão de
outros tipos de asteroides, porém, depende agora mais de
programas de monitoramento
como o Catalina Sky Survey, do
Arizona, que descobriu o TC3.
Entre os autores do estudo na
"Nature" está Simon Warden,
que há muito tempo defende
que os objetos ameaçadores
que rondam a Terra merecem
mais atenção -e dinheiro.
O Catalina é um projeto barato para seu porte, custando
US$ 700 mil anuais, mas um
monitoramento robusto sai
bem mais caro. O Programa
NEO, da Nasa, bem mais completo, faz isso hoje ao custo de
US$ 4 milhões anuais, e ainda
assim deixou o TC3 passar batido. Por sorte, não havia risco.
"Se uma pedrona das grandes estiver vindo, o que nós vamos fazer? Chamar o Bruce
Willis?", diz o astrônomo John
Tonry, aludindo ao filme "Armageddon", em que o ator usa
uma bomba nuclear para destruir um asteroide em rota de
colisão. Para o cientista, porém, de nada adianta saber como destruir um asteroide se a
ciência não conseguir detectá-lo com boa antecedência.
Tonry está agora tentando
levantar fundos para ajudar o
projeto Pan-Starrs que, ao custo estimado de US$ 100 milhões, deve fazer uma cobertura bem mais completa do céu,
usando quatro supertelescópios. O primeiro, no monte Haleakala, no Havaí, entrou em
operação em dezembro.
Para quem considera o monitoramento de asteroides algo
caro demais, Tonry lembra que
a filmagem de "Armageddon"
custou a bagatela de US$ 140
milhões, e garantiu o faturamento de US$ 554 milhões.
Caso Hollywood queira ajudar os cientistas, a oferta será
bem-vinda, diz o astrônomo.
(RAFAEL GARCIA)
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