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Desmate não resolve crise de alimentos, diz Marina
Para titular do Meio Ambiente, não dá para responder à situação com "velhas práticas"
Ministra respondeu a declarações de governador
de MT, para quem derrubar árvores é "inevitável" diante
da escassez de comida
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse ontem
que a "pressão insustentável"
sobre os recursos naturais não
é resposta à crise mundial dos
alimentos. Para Marina, destruir ecossistemas para plantar
"só adia a crise por um tempo".
A declaração foi uma resposta à defesa que o governador de
Mato Grosso, Blairo Maggi, fez
anteontem do desmatamento
como mecanismo "inevitável"
para enfrentar a alta global no
preço dos alimentos.
Em entrevista à Folha, Maggi afirmou que "não há como
produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e
a derrubada de árvores". Ressaltou, no entanto, que só defende o desmatamento legal.
Instada a comentar a entrevista, Marina evitou criticar diretamente o governador, com
quem tem se desentendido nos
últimos meses (Maggi questiona os dados do governo federal
que mostram a explosão no
desmatamento em seu Estado
no final de 2007). A ministra
disse que a crise dos alimentos
é um dado de realidade, mas
que a forma de enfrentá-la é
"lançar mão da melhor tecnologia e do conhecimento científico disponíveis".
"Não é o momento de responder a novos desafios com
velhas práticas", disse. "O ministro da Agricultura diz que
nós podemos dobrar a produção no país sem derrubar mais
nenhuma árvore."
A ministra defendeu que se
busquem recursos para recuperar áreas já degradadas e torná-las produtivas. Maggi também havia criticado essa estratégia, dizendo que a maioria
dessas áreas não é propícia à
agricultura em larga escala.
"Não é propícia se formos
utilizar velhas tecnologias, se
for na lógica da pecuária extensiva e da garimpagem de nutrientes", disse Marina.
A diretora-executiva da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária), Tatiana de Abreu Sá, concorda com a
ministra na questão da tecnologia, mas também afirma que
Maggi está certo quando diz
que os agricultores precisam
de algum tipo de "seguro" para
produzir em áreas degradadas.
"Realmente não é preciso
desmatar [para produzir alimentos], desde que políticas
adequadas sejam feitas", disse
a dirigente e pesquisadora.
Para Abreu Sá, é possível,
com financiamento, logística e
incentivos, recuperar as áreas
degradadas na Amazônia e produzir ao mesmo tempo. "Tecnologia nós temos", afirmou.
Tiro no pé
O coordenador da campanha
Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, disse que as declarações de Blairo Maggi foram um
"passo atrás no esforço de esverdeamento dele".
No ano passado, ele foi o único governador presente quando um grupo de ONGs lançou
uma proposta para zerar o desmatamento na Amazônia. "Na
ocasião, ele disse que o desmatamento era um leão adormecido", recorda-se Adário. "Agora
ele está fazendo todo o barulho
possível para o leão acordar."
A oposição entre preservação
da floresta e produção de alimentos é uma falsa dicotomia,
diz Adário. Segundo ele, é graças às chuvas produzidas na
Amazônia que as terras férteis
do Centro-Sul são irrigadas.
"Desmatar é um tiro no pé."
Colaborou EDUARDO GERAQUE, da Reportagem Local
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