São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

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Cérebro produz "maconha" para organizar neurônios

Estudo explica por que droga afeta filho de usuária

"Science"
Moléculas (em branco) ativadas por canabinóide em neurônio


DA REDAÇÃO

Um grupo de moléculas produzidas pelo cérebro e semelhantes ao THC, o princípio ativo da maconha, é responsável por conduzir o desenvolvimento de neurônios no cérebro de fetos. A descoberta, feita com base em pesquisas com camundongos e células de rã em cultura, é uma das primeiras evidências físicas sobre como gestantes que fumam a droga podem prejudicar o desenvolvimento de seus filhos.
Segundo estudo liderado por cientistas do Instituto Karolinska, de Estocolmo, os endocanabinóides, moléculas produzidas naturalmente pelo sistema nervoso, são responsáveis por modular a maneira como as células cerebrais se organizam e criam conexões entre si.
No estudo, publicado na edição de ontem da revista "Science" (www.sciencemag.org), os pesquisadores mostraram como os endocanabinóides guiam a formação dos axônios, estruturas que funcionam como os "cabos" celulares que interconectam neurônios, formando redes complexas no sistema nervoso.
"Além de identificar um mecanismo fundamental no desenvolvimento cerebral, nossas descobertas fornecem novas perspectivas de identificar as mudanças moleculares nos cérebros de indivíduos afetados antes de nascer por mães que usam Cannabis", disse em comunicado à imprensa Tibor Harkany, líder do grupo de neurocientistas.
Segundo o pesquisador, apesar de não haver evidência cabal de que filhos de usuárias de maconha sejam menos inteligentes, alguns estudos oferecem boas provas de que essas crianças estão sob maior risco de problemas para se concentrar, transtornos de hiperatividade e dificuldade de relacionamento. "Isso tem impacto social, considerando o crescente uso de maconha, a droga ilícita mais comum em nossa sociedade", disse.

Cabos mal conectados
No estudo com células animais, o pesquisador mostrou como os axônios crescem para um lado ou para outro e vão guiando seu caminho em função de sinais que recebem de outras células; as "ordens" para o direcionamento são enviadas na forma de endocanabinóides.
Esse processo acontece sobretudo durante o desenvolvimento do cérebro na fase fetal. Nessa etapa, os neurônios do córtex, a camada mais externa do cérebro, migram do centro para a superfície do órgão, e vão fazendo conexões ao longo do seu caminho.
Se o processo for perturbado por uma enxurrada de canabinóides exógenos (a maconha), a rede neural do córtex pode não se formar com todas as conexões que deveria, afirma o estudo de Harkany na "Science".


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