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Humanidade esgota seu "espaço
de operação", dizem cientistas
Para grupo integrado por Prêmio Nobel, sociedade excedeu 3 limiares planetários
Moacyr Lopes Jr. - 08.set.09/Folha Imagem
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DA REDAÇÃO
A humanidade pode estar tirando o planeta da excepcional
estabilidade ambiental em que
ele se encontra há 10 mil anos e
lançando-o numa zona turbulenta com consequências "catastróficas". O novo alerta é feito por um grupo internacional
de 29 cientistas, em artigo nesta semana na revista "Nature".
O time reúne alguns dos
maiores especialistas no sistema terrestre, entre eles o holandês Paul Crutzen, Nobel de
Química em 95 por seu trabalho sobre a camada de ozônio.
Eles identificaram nove fatores-chave do funcionamento
do planeta que não deveriam
ser perturbados além de um
certo limite para que a estabilidade ambiental que permitiu o
florescimento da civilização
continue por milhares de anos.
Acontece que, dos nove "limiares planetários", como o artigo chama esses fatores, três já
foram excedidos de longe: a
mudança climática, a perda da
biodiversidade e a alteração no
ciclo do nitrogênio. Sobre dois
deles, a poluição química e o
lançamento de aerossóis na atmosfera, não há informação suficiente. Outros três -uso de
água doce, mudança no uso da
terra e acidificação dos oceanos- ainda não tiveram seus limites ultrapassados, mas terão,
se as atividades humanas mantiverem o ritmo e o caráter
atuais. Um único limiar, a destruição do ozônio estratosférico, está sendo revertido aos valores pré-industriais.
O ciclo do nitrogênio não
costuma aparecer entre as pragas ambientais mais citadas.
No entanto, os pesquisadores,
liderados por Johan Rockström (Universidade de Estocolmo), apontam que a quantidade desse gás removida da atmosfera para uso humano
-quase tudo como fertilizante
para a agricultura- já é quatro
vezes maior do que o limite
proposto. "É mais do que os
efeitos combinados de todos os
processos [naturais] da Terra",
escrevem os autores. Nos fertilizantes, o nitrogênio é convertido a uma forma reativa e acaba no ambiente, poluindo rios e
zonas costeiras e formando
óxido nítrico, um gás-estufa.
Outro nutriente importante,
o fósforo, também está tendo
seu ciclo alterado, embora haja
"grandes incertezas" sobre
qual seria seu limite.
O grupo aponta que o fato de
"apenas" três limiares terem sido cruzados não é garantia de
que o mundo não sofrerá mudanças catastróficas. Afinal, há
múltiplas interações entre os
limiares. "Transgredir a barreira do nitrogênio-fósforo pode
erodir a resiliência de alguns
ecossistemas marinhos, potencialmente reduzindo sua capacidade de absorver CO2, afetando assim a barreira climática."
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