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MT investirá R$ 1 bilhão em frigoríficos
Verba acende "sinal amarelo" para ambientalistas, que vêem relação entre setor e aumento nas taxas de desmatamento
Capacidade de abate será ampliada para até 35 mil
animais por dia; três plantas em construção ficam em
municípios de "lista suja"
MATHEUS PICHONELLI
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
A expectativa do mercado de
frigoríficos de investir, nos próximos dois anos, cerca de R$ 1
bilhão em Mato Grosso pode
aumentar o desmatamento na
região em decorrência do incentivo à criação de gado. Essa
é a opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
O dinheiro será destinado,
basicamente, à construção de
dez novas instalações para o
abate de animais no Estado,
que já lidera a derrubada da floresta na Amazônia Legal.
Com os novos projetos, Mato
Grosso ampliará a capacidade
de abate de 20 mil animais por
dia para até 35 mil -um incremento de 75%.
As informações são do Sindifrigo (Sindicato dos Frigoríficos de Mato Grosso), que diz
que há hoje 33 frigoríficos no
Estado. Os investimentos, segundo o presidente da entidade, Luiz Antonio Freitas Martins, devem gerar 9.500 empregos diretos e 28,5 mil vagas indiretas, números comemorados pelo governo Blairo Maggi.
Relação direta
Para o professor de engenharia florestal da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) Versides Sebastião de Moraes e Silva, especialista em
manejo florestal, a relação entre o aumento de frigoríficos e a
devastação ambiental para a
abertura de pastos é "direta".
"Trazer abatedouros é uma
resposta à oferta de animais",
afirma. Ele diz que uma maneira de brecar o desmate é investir na criação intensiva de animais, ou seja, aumentar a tecnologia para aproveitar melhor
o espaço de pastagem.
O professor afirma que, para
a maior parte dos investidores
da Amazônia, ainda "não está
claro" que modelo deve ser
adotado como alternativa ao
que compromete a floresta.
Pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o engenheiro agrônomo Adalberto
Veríssimo afirma que a chegada de novos abatedouros deixa
ligado o "sinal amarelo" em relação a um possível aumento do
desmatamento na região.
"Devemos ficar em alerta.
Esperamos que essas empresas
adotem uma postura transparente e que possamos monitorar se a relação com fornecedores [de carne] irá proporcionar
um efeito-dominó. Mas existem formas hoje de controle e
parte da atividade hoje está
modernizada e pode até ser
aliada do meio ambiente", diz.
Segundo ele, cerca de 78% do
desmatamento na Amazônia
ocorre em razão da pecuária.
Veríssimo diz que, historicamente, há uma correlação entre o aumento do preço da carne, como acontece agora, o
crescimentos nos investimentos do setor e a ampliação de
áreas desmatadas.
Em dezembro passado, a arroba do boi gordo chegou a ser
negociada a R$ 74,69 -a maior
cotação nominal mensal após a
criação do Plano Real.
O pesquisador cita como
exemplo o recorde de desmatamento observado entre 1994 e
1995 na Amazônia (29 mil quilômetros quadrados), numa
época de alta cotação do produto, e em 2003 e 2004, quando o
desmatamento chegou a 27 mil
quilômetros quadrados.
Segundo o presidente do sindicato, existem oito plantas de
frigoríficos em fase adiantada
de construção nos municípios
de Nova Xavantina, Guarantã
do Norte, Nova Monte Verde,
Pontes e Lacerda, Juruena,
Brasnorte, Confresa e Juara.
Os três últimos estão entre os
36 nos quais, por ordem do governo federal, o desmate foi
suspenso na última quinta.
A maior expectativa, porém,
é sobre a instalação de duas
plantas, em Sorriso e Diamantino, onde dois dos maiores
grupos do país, a Friboi e a Bertin, respectivamente, têm planos de investir, juntas, mais de
R$ 750 milhões.
Estudo inédito do Imazon
sobre pecuária na Amazônia
mostra que, entre 1990 e 2006,
foram desmatados 30,6 milhões de hectares na região, segundo o Inpe -dos quais 25,3
milhões foram destinados a
pasto. O rebanho bovino na
Amazônia cresceu 173% entre
1990 e 2004 e a pecuária ocupou 78% da área desmatada.
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