São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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MT investirá R$ 1 bilhão em frigoríficos

Verba acende "sinal amarelo" para ambientalistas, que vêem relação entre setor e aumento nas taxas de desmatamento

Capacidade de abate será ampliada para até 35 mil animais por dia; três plantas em construção ficam em municípios de "lista suja"

MATHEUS PICHONELLI
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA

A expectativa do mercado de frigoríficos de investir, nos próximos dois anos, cerca de R$ 1 bilhão em Mato Grosso pode aumentar o desmatamento na região em decorrência do incentivo à criação de gado. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
O dinheiro será destinado, basicamente, à construção de dez novas instalações para o abate de animais no Estado, que já lidera a derrubada da floresta na Amazônia Legal.
Com os novos projetos, Mato Grosso ampliará a capacidade de abate de 20 mil animais por dia para até 35 mil -um incremento de 75%.
As informações são do Sindifrigo (Sindicato dos Frigoríficos de Mato Grosso), que diz que há hoje 33 frigoríficos no Estado. Os investimentos, segundo o presidente da entidade, Luiz Antonio Freitas Martins, devem gerar 9.500 empregos diretos e 28,5 mil vagas indiretas, números comemorados pelo governo Blairo Maggi.

Relação direta
Para o professor de engenharia florestal da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) Versides Sebastião de Moraes e Silva, especialista em manejo florestal, a relação entre o aumento de frigoríficos e a devastação ambiental para a abertura de pastos é "direta".
"Trazer abatedouros é uma resposta à oferta de animais", afirma. Ele diz que uma maneira de brecar o desmate é investir na criação intensiva de animais, ou seja, aumentar a tecnologia para aproveitar melhor o espaço de pastagem.
O professor afirma que, para a maior parte dos investidores da Amazônia, ainda "não está claro" que modelo deve ser adotado como alternativa ao que compromete a floresta.
Pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o engenheiro agrônomo Adalberto Veríssimo afirma que a chegada de novos abatedouros deixa ligado o "sinal amarelo" em relação a um possível aumento do desmatamento na região.
"Devemos ficar em alerta. Esperamos que essas empresas adotem uma postura transparente e que possamos monitorar se a relação com fornecedores [de carne] irá proporcionar um efeito-dominó. Mas existem formas hoje de controle e parte da atividade hoje está modernizada e pode até ser aliada do meio ambiente", diz.
Segundo ele, cerca de 78% do desmatamento na Amazônia ocorre em razão da pecuária.
Veríssimo diz que, historicamente, há uma correlação entre o aumento do preço da carne, como acontece agora, o crescimentos nos investimentos do setor e a ampliação de áreas desmatadas.
Em dezembro passado, a arroba do boi gordo chegou a ser negociada a R$ 74,69 -a maior cotação nominal mensal após a criação do Plano Real.
O pesquisador cita como exemplo o recorde de desmatamento observado entre 1994 e 1995 na Amazônia (29 mil quilômetros quadrados), numa época de alta cotação do produto, e em 2003 e 2004, quando o desmatamento chegou a 27 mil quilômetros quadrados.
Segundo o presidente do sindicato, existem oito plantas de frigoríficos em fase adiantada de construção nos municípios de Nova Xavantina, Guarantã do Norte, Nova Monte Verde, Pontes e Lacerda, Juruena, Brasnorte, Confresa e Juara.
Os três últimos estão entre os 36 nos quais, por ordem do governo federal, o desmate foi suspenso na última quinta.
A maior expectativa, porém, é sobre a instalação de duas plantas, em Sorriso e Diamantino, onde dois dos maiores grupos do país, a Friboi e a Bertin, respectivamente, têm planos de investir, juntas, mais de R$ 750 milhões.
Estudo inédito do Imazon sobre pecuária na Amazônia mostra que, entre 1990 e 2006, foram desmatados 30,6 milhões de hectares na região, segundo o Inpe -dos quais 25,3 milhões foram destinados a pasto. O rebanho bovino na Amazônia cresceu 173% entre 1990 e 2004 e a pecuária ocupou 78% da área desmatada.


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