São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Produção científica russa perde volume e é ultrapassada

Enquanto China cresceu 64 vezes e Brasil mais de 10, país publica hoje quase o mesmo número de estudos de 1981

Fuga de cérebros para locais como Europa Ocidental e EUA, assim como crise na economia, explicam queda; há esperança, diz análise

DA REPORTAGEM LOCAL

Dados oriundos das principais publicações científicas do mundo documentam a queda de um gigante: a Rússia. Em sua encarnação soviética, o país assustava os EUA e forçou o Ocidente a correr atrás do prejuízo em áreas como ciências espaciais e física. Mas, em números absolutos, sua produção de pesquisas está estacionada no nível que tinha nos anos 1980, enquanto China, Brasil e Índia agora ultrapassam os russos.
A conclusão está num relatório recente da empresa Thomson Reuters, que se dedica a catalogar a produção científica mundial reunindo dados de mais de 10 mil revistas especializadas, que passam por um crivo mínimo de qualidade. Nessa base de dados, só entram artigos científicos que passaram pela revisão por pares, na qual especialistas independentes da mesma área de pesquisa avaliam se o trabalho é inovador e merece ser publicado.

De olho nos Brics
Desde junho do ano passado, quando saíram os dados sobre a produção brasileira, a Thomson Reuters tem publicado análises do desempenho científico dos chamados Brics (sigla de Brasil, Rússia, Índia e China), grupo de grandes países emergentes do mundo.
Por causa de seu potencial econômico e populacional, espera-se que esses países ocupem cada vez mais a linha de frente da ciência no mundo, mas os dados russos revelam que, mesmo entre os Brics, o cenário é um bocado desigual.
A queda russa era esperada quando se considera o colapso econômico do país após o fim da União Soviética, no começo dos anos 1990. Em 2007, por exemplo, os principais institutos de pesquisa da Rússia tinham orçamento equivalente a uns 5% do dinheiro de instituições do mesmo porte nos EUA.
Estima-se que cerca de 80 mil cientistas russos tenham emigrado nos últimos 20 anos. E a média de idade dos membros da Academia Russa de Ciências supera os 50 anos, indicando a dificuldade de atrair gente jovem para formar uma nova elite da ciência no país.
A Thomson Reuters teve o cuidado de comparar a produção científica russa de hoje com a da parte russa da União Soviética desde 1981. Por isso mesmo, o padrão que aparece é assustador. No ano de início da série, cientistas russos publicaram pouco menos de 25 mil artigos científicos. Após um pico de 29 mil estudos em 1994, o número mais recente, de 2008, é de 27,6 mil estudos.
O congelamento da ciência russa fica claro quando os dados dos outros Brics entram na equação. No mesmo período, o Brasil pulou de apenas 2.000 artigos anuais para 30 mil.
O crescimento explosivo da China espelha o de sua economia: hoje, os chineses publicam 64 vezes mais do que em 1981, com 112 mil artigos anuais. Nos últimos cinco anos, a produção científica russa ainda supera a brasileira em termos relativos (2,6% do total mundial, contra 2,1% do Brasil), mas perde dos índices da China (8,4%), da Índia (2,9%) e da Austrália (3%).
Apesar da situação difícil da ciência russa, o relatório diz que há sinais de esperança. Após um mínimo de 22 mil trabalhos em 2006, a produção do país voltou a crescer nos últimos anos. E parcerias com outros países estão se mantendo.
(REINALDO JOSÉ LOPES)


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