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Produção científica russa perde volume e é ultrapassada
Enquanto China cresceu 64 vezes e Brasil mais de 10, país publica hoje quase o mesmo número de estudos de 1981
Fuga de cérebros para locais
como Europa Ocidental e
EUA, assim como crise na
economia, explicam queda;
há esperança, diz análise
DA REPORTAGEM LOCAL
Dados oriundos das principais publicações científicas do
mundo documentam a queda
de um gigante: a Rússia. Em sua
encarnação soviética, o país assustava os EUA e forçou o Ocidente a correr atrás do prejuízo
em áreas como ciências espaciais e física. Mas, em números
absolutos, sua produção de pesquisas está estacionada no nível que tinha nos anos 1980, enquanto China, Brasil e Índia
agora ultrapassam os russos.
A conclusão está num relatório recente da empresa Thomson Reuters, que se dedica a catalogar a produção científica
mundial reunindo dados de
mais de 10 mil revistas especializadas, que passam por um crivo mínimo de qualidade. Nessa
base de dados, só entram artigos científicos que passaram
pela revisão por pares, na qual
especialistas independentes da
mesma área de pesquisa avaliam se o trabalho é inovador e
merece ser publicado.
De olho nos Brics
Desde junho do ano passado,
quando saíram os dados sobre a
produção brasileira, a Thomson Reuters tem publicado
análises do desempenho científico dos chamados Brics (sigla
de Brasil, Rússia, Índia e China), grupo de grandes países
emergentes do mundo.
Por causa de seu potencial
econômico e populacional, espera-se que esses países ocupem cada vez mais a linha de
frente da ciência no mundo,
mas os dados russos revelam
que, mesmo entre os Brics, o
cenário é um bocado desigual.
A queda russa era esperada
quando se considera o colapso
econômico do país após o fim
da União Soviética, no começo
dos anos 1990. Em 2007, por
exemplo, os principais institutos de pesquisa da Rússia tinham orçamento equivalente a
uns 5% do dinheiro de instituições do mesmo porte nos EUA.
Estima-se que cerca de 80
mil cientistas russos tenham
emigrado nos últimos 20 anos.
E a média de idade dos membros da Academia Russa de
Ciências supera os 50 anos, indicando a dificuldade de atrair
gente jovem para formar uma
nova elite da ciência no país.
A Thomson Reuters teve o
cuidado de comparar a produção científica russa de hoje com
a da parte russa da União Soviética desde 1981. Por isso mesmo, o padrão que aparece é assustador. No ano de início da
série, cientistas russos publicaram pouco menos de 25 mil artigos científicos. Após um pico
de 29 mil estudos em 1994, o
número mais recente, de 2008,
é de 27,6 mil estudos.
O congelamento da ciência
russa fica claro quando os dados dos outros Brics entram na
equação. No mesmo período, o
Brasil pulou de apenas 2.000
artigos anuais para 30 mil.
O crescimento explosivo da
China espelha o de sua economia: hoje, os chineses publicam
64 vezes mais do que em 1981,
com 112 mil artigos anuais. Nos
últimos cinco anos, a produção
científica russa ainda supera a
brasileira em termos relativos
(2,6% do total mundial, contra
2,1% do Brasil), mas perde dos
índices da China (8,4%), da Índia (2,9%) e da Austrália (3%).
Apesar da situação difícil da
ciência russa, o relatório diz
que há sinais de esperança.
Após um mínimo de 22 mil trabalhos em 2006, a produção do
país voltou a crescer nos últimos anos. E parcerias com outros países estão se mantendo.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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