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EFEITO ESTUFA
Pesquisa dos EUA rebate o consenso de que causa estava na dilatação de oceanos pelo aquecimento global
Degelo é o principal fator na elevação das águas do mar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas concluíram algo que
muita gente já pensava, mas que
pesquisadores consideravam um
erro conceitual: é principalmente
o derretimento de massas de gelo
que está fazendo subir o nível global dos oceanos, como produto
do aquecimento global.
O trabalho foi realizado por
Laury Miller, do Laboratório para
Altimetria de Satélite da Noaa
(Administração Nacional de
Oceanos e Atmosfera, na sigla em
inglês), e Bruce Douglas, da Universidade Internacional da Flórida, ambos dos EUA. Está na última edição da revista britânica
"Nature" (www.nature.com)
Desde 1995 o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) já
estimava que o aumento do nível
dos oceanos estivesse na média de
1,5 a 2 milímetros por ano. O consenso era que a principal razão do
aumento estava no aquecimento
e na dilatação do oceano.
Sabe-se que existe uma relação
física direta entre volume e temperatura -quanto mais quente
está um líquido, mais espaço ele
ocupa. Os cientistas imaginavam
que fosse o aumento da temperatura da água o principal elemento
responsável pela elevação do nível
dos mares no século 20.
Segundo as estimativas iniciais,
o derretimento das calotas polares, com o aumento da quantidade de água no oceano, ao contrário do que ditava o senso comum,
respondia por um efeito menor.
Informações conflitantes
Em 2001, conforme os dados sobre a temperatura dos oceanos ficavam mais claros, a coisa se tornou mais confusa. De acordo com
as novas contas, o aquecimento
das massas de água respondia por
um aumento de nível de apenas
0,5 milímetro por ano.
Daí derivaram duas hipóteses.
Ou os dados que indicavam um
aumento de 2 mm/ano -obtidos
por altímetros de precisão em satélites colocados em órbita- estavam errados, ou a partilha entre
derretimento de gelo e aquecimento da água fora mal calculada.
Para resolver a disputa, entra
em cena agora a nova pesquisa
feita por Miller e Douglas. Com
base na reavaliação de certos dados coletados em regiões específicas dos oceanos Atlântico e Pacífico, a dupla comprovou: o senso
comum estava certo, e a culpa é
mesmo das calotas polares.
Os dados altimétricos de 2
mm/ano estão corretos, assim como a estimativa de que aquecimento e dilatação do oceano fazem elevar o nível dos mares em
0,5 mm/ano. Era a contribuição
do degelo (da terra para os oceanos) que estava subestimada.
"Nossa análise apóia estudos
anteriores que colocavam a taxa
do século 20 na faixa de 1,5-2
mm/ano, mas, mais importante,
sugere que o aumento de massa
tem um papel maior do que o
aquecimento dos oceanos no aumento global do nível do mar",
afirmam os autores na "Nature".
"Os resultados oferecem evidência clara de que alterações no volume do oceano por temperatura
e salinidade respondem por apenas uma fração das mudanças."
A pesquisa foi bem recebida pela comunidade científica. "Se não
pode ser considerado um resultado revolucionário, é, de todo modo, muito interessante", diz Carlos Nobre, pesquisador do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) e membro do IPCC.
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