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Degelo não afetou circulação do Atlântico
Estudo afirma que corrente do Golfo não enfraqueceu nas últimas duas décadas, apesar do derretimento visto no Ártico
Redução de corrente que
leva calor à Europa é um dos
impactos mais temidos da
mudança do clima e inspirou
filme-catástrofe em 2004
DA REDAÇÃO
No filme-catástrofe "O Dia
Depois de Amanhã", de 2004, o
aquecimento global provoca o
desligamento da corrente oceânica que leva calor à Europa e
causa uma era glacial. Nos últimos anos, alguns estudos sugeriram que esse cenário já poderia estar acontecendo. Mas um
pesquisador americano afirma
que o temor não tem fundamento: a chamada corrente do
Golfo continua firme e forte.
Talvez até mesmo ligeiramente mais forte, afirma Josh
Willis, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. Como o
oceano Atlântico está mais
quente, pelo menos nas últimas
duas décadas o volume de água
transportado aumentou.
A chamada circulação termo-halina do Atlântico, sistema do
qual a corrente do Golfo faz
parte, ajuda a distribuir o calor
do planeta, funcionando como
um colossal radiador.
A água quente, menos densa,
viaja pela superfície do mar. Ao
chegar ao Ártico, ela resfria e fica mais salgada. Como a água
salgada é mais densa, a corrente afunda e muda de sentido,
retornando ao Equador como
uma corrente fria submarina.
Desde a década passada, alguns estudos sugerem que o degelo maciço do Ártico poderia
lançar tanta água doce no oceano que acabaria com a diferença de salinidade, fazendo com
que a corrente parasse de afundar. O cinturão de convecção
seria desligado, resfriando a
Europa em até 5C.
Há evidências fortes de que
isso tenha acontecido há 12 mil
anos, quando o fim da última
glaciação despejou água das geleiras que cobriam a América
do Norte e a Europa no mar.
Em 2005, uma série de medições feitas pelo grupo do oceanógrafo britânico Harry
Bryden, da Universidade de
Southampton, sugeriu que já
havia um enfraquecimento de
30% na corrente.
O estudo, publicado no periódico "Nature", causou pânico. Mas o mesmo grupo, dois
anos depois, publicou na mesma revista um outro trabalho
mostrando que o enfraquecimento se devia à variabilidade
natural da circulação.
Em seu relatório de 2007, o
IPCC (o painel do clima da
ONU) afirmou que grandes
mudanças na circulação oceânica "não podem ser avaliadas"
devido a incertezas.
No novo estudo, publicado
ontem no periódico "Geophysical Research Letters", Willis
desenvolveu um método para
tentar reduzir essa incerteza.
Ele combinou medições de
satélites com dados dos flutuadores robóticos Argos, um conjunto de boias automatizadas
que mergulham até 2.000 m e
sobem depois, medindo temperatura e salinidade ao longo da
coluna d'água.
É a primeira vez que alguém
usa essas duas fontes de dados
para avaliar a convecção no
Atlântico Norte. (As medições
de Bryden foram feitas em navios.) É também a série de medições mais longa dessa circulação, indo de 1993 a 2009.
Willis descobriu que o volume de água que afunda no
Atlântico Norte é de cerca de 15
sverdrups, com incerteza de 2,4
sverdrups para mais ou para
menos. Um sverdrup equivale a
1 milhão de metros cúbicos por
segundo, volume d'água despejado no oceano por todos os
rios da Terra juntos. Esse volume varia de ano a ano, mas não
existe nenhuma tendência significativa de enfraquecimento
ou fortalecimento da circulação entre 2002 e 2009.
Olhando só os dados de satélite, porém, o estudo indica um
fortalecimento de 2,6 sverdrups na circulação desde 1993.
É um número desprezível, dada
a margem de erro, mas consistente com o aquecimento do
Atlântico nesse período (que
aumenta o volume de água
quente transportada).
A conclusão de Willis é: pelo
menos por enquanto, não criemos pânico. O volume de gelo
que derrete no Ártico ainda é
insuficiente para afetar a circulação termo-halina. "Ninguém
está prevendo outra era do gelo
como resultado de mudanças
na circulação do Atlântico", diz
o cientista.
(CLAUDIO ANGELO)
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