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ASTRONOMIA
Satélites que observarão a radiação de fundo e o nascimento de estrelas têm lançamento previsto para 2007
UE prepara sondas rumo ao Universo frio
IGNACIO F. BAYO
ANDREA CLAVERÍA
DO "EL PAÍS"
A história do começo da evolução do Universo está escrita em
temperaturas muito baixas. Os
cientistas tentam lê-la na radiação
de fundo que inunda o espaço,
apenas 2,73C acima do zero absoluto (-273C). A Agência Espacial Européia prepara duas missões que deverão estudar essa
evolução em detalhes.
Recentemente, o telescópio
americano WMAP revelou, com
base na radiação cósmica de fundo, que a idade aproximada do
Universo é 13,7 bilhões de anos.
Seu precursor, o Cobe, proporcionou 11 anos antes as primeiras
imagens que mostravam as levíssimas flutuações da temperatura
dessa radiação de fundo, interpretadas como indícios das condensações de matéria que foram produzidas quando o Universo tinha
apenas 300 mil anos e que dariam
lugar, mais tarde, às galáxias.
Dentro de quatro anos, a Agência Espacial Européia lançará a
sonda Planck, para estudar a radiação cósmica de fundo com
uma precisão muito superior, o
que proporcionará novos dados
sobre aquela época distante.
Junto a ela viajará, em um foguete Ariane-5 lançado de Kourou (Guiana Francesa), outra sonda da ESA, a Herschel, um telescópio de infravermelho destinado
a estudar os astros mais frios, como os planetas, e a poeira cósmica
a partir da qual nascem as estrelas, o que permitirá conhecer melhor a formação estelar e responder a questões ainda misteriosas
sobre o nascimento das galáxias.
Com um espelho de 3,5 metros
de diâmetro, o Herschel será o
maior telescópio espacial já construído -o Hubble tem 2,4 metros
de espelho- e cobrirá regiões do
espectro ainda não exploradas
por outros detectores em órbita, a
partir do infravermelho distante.
Para poder realizar suas observações longe da contaminação
térmica e eletromagnética da Terra e do Sol, ambos os satélites ficarão em órbita em volta do ponto 2
de Lagrange (L2), situado a 1,5
milhão de quilômetros da Terra,
na direção oposta à do Sol.
Nesse ponto a atração gravitacional da Terra e a do Sol compensam pela força que quer tirar
um objeto de órbita, permitindo
que ele se mantenha lá de forma
estável, gastando pouca energia.
Ali, as sondas poderão varrer o
céu em todas as direções, à medida que se movem juntamente
com a Terra em torno do Sol.
Microondas
A Planck, batizada em homenagem ao iniciador da mecânica
quântica, Max Planck, ficará ativa
por 21 meses, analisando a radiação de fundo de microondas com
uma precisão surpreendente.
"Embora a WMAP tenha uma
tecnologia muito similar à da
Planck, esta conseguirá uma resolução dez vezes maior", afirma
Salvador Llorente, responsável
pelo subsistema de controle de
atitude e órbita do aparelho.
O espelho principal do Planck
recolherá a radiação de microondas e a concentrará em dois conjuntos de detectores, que converterão esses sinais em medições de
temperatura. Esse "termômetro"
atípico será capaz de distinguir
entre variações de milionésimos
de grau Celsius na radiação. Essas
variações, chamadas de anisotropias, são o indício de diferentes
densidades na distribuição inicial
da matéria no cosmos.
Essa radiação foi emitida 300
mil anos depois do Big Bang. Até
então, a densidade cósmica era
tão grande que toda a radiação se
encontrava aprisionada em uma
"sopa" de partículas. A radiação
de fundo tinha, nesse época, uma
temperatura de cerca de 3.000C,
que foi caindo à medida que o
Universo continuava sua expansão, até os -270,4C atuais.
Por isso, para poder estudar essa radiação, é necessário que os
detectores estejam resfriados a
temperaturas muito próximas da
sua. Os dois detectores de microondas do Planck funcionarão
abaixo de -253C, um deles a
-272,9C, temperatura obtida graças a uma câmara criostática alimentada por hélio líquido.
O estudo das anisotropias da radiação cósmica de fundo permitirá abordar outras grandes questões cosmológicas, como a composição da chamada matéria escura e a da densidade da matéria.
Janela para as estrelas
Embora se trate de uma missão
independente, a sonda Herschel
(batizada em homenagem ao astrônomo britânico William Herschel), terá um trabalho complementar ao da Planck.
A faixa do espectro em que ela
trabalhará permitirá a observação
da poeira interestelar e dos objetos mais frios -e, portanto, mais
escuros-, como os planetas extra-solares e os discos protoplanetários. Poderá ver as etapas anteriores ao nascimento de uma estrela e a gênese de um planeta, fenômenos geralmente inacessíveis
aos instrumentos atuais, que não
podem enxergar através da poeira
cósmica em que eles ocorrem.
Assim como o Planck, o Herschel trabalhará a temperaturas
próximas do zero absoluto.
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