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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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ASTRONOMIA

Satélites que observarão a radiação de fundo e o nascimento de estrelas têm lançamento previsto para 2007

UE prepara sondas rumo ao Universo frio

IGNACIO F. BAYO
ANDREA CLAVERÍA

DO "EL PAÍS"

A história do começo da evolução do Universo está escrita em temperaturas muito baixas. Os cientistas tentam lê-la na radiação de fundo que inunda o espaço, apenas 2,73C acima do zero absoluto (-273C). A Agência Espacial Européia prepara duas missões que deverão estudar essa evolução em detalhes.
Recentemente, o telescópio americano WMAP revelou, com base na radiação cósmica de fundo, que a idade aproximada do Universo é 13,7 bilhões de anos. Seu precursor, o Cobe, proporcionou 11 anos antes as primeiras imagens que mostravam as levíssimas flutuações da temperatura dessa radiação de fundo, interpretadas como indícios das condensações de matéria que foram produzidas quando o Universo tinha apenas 300 mil anos e que dariam lugar, mais tarde, às galáxias.
Dentro de quatro anos, a Agência Espacial Européia lançará a sonda Planck, para estudar a radiação cósmica de fundo com uma precisão muito superior, o que proporcionará novos dados sobre aquela época distante.
Junto a ela viajará, em um foguete Ariane-5 lançado de Kourou (Guiana Francesa), outra sonda da ESA, a Herschel, um telescópio de infravermelho destinado a estudar os astros mais frios, como os planetas, e a poeira cósmica a partir da qual nascem as estrelas, o que permitirá conhecer melhor a formação estelar e responder a questões ainda misteriosas sobre o nascimento das galáxias.
Com um espelho de 3,5 metros de diâmetro, o Herschel será o maior telescópio espacial já construído -o Hubble tem 2,4 metros de espelho- e cobrirá regiões do espectro ainda não exploradas por outros detectores em órbita, a partir do infravermelho distante.
Para poder realizar suas observações longe da contaminação térmica e eletromagnética da Terra e do Sol, ambos os satélites ficarão em órbita em volta do ponto 2 de Lagrange (L2), situado a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, na direção oposta à do Sol.
Nesse ponto a atração gravitacional da Terra e a do Sol compensam pela força que quer tirar um objeto de órbita, permitindo que ele se mantenha lá de forma estável, gastando pouca energia. Ali, as sondas poderão varrer o céu em todas as direções, à medida que se movem juntamente com a Terra em torno do Sol.

Microondas
A Planck, batizada em homenagem ao iniciador da mecânica quântica, Max Planck, ficará ativa por 21 meses, analisando a radiação de fundo de microondas com uma precisão surpreendente.
"Embora a WMAP tenha uma tecnologia muito similar à da Planck, esta conseguirá uma resolução dez vezes maior", afirma Salvador Llorente, responsável pelo subsistema de controle de atitude e órbita do aparelho.
O espelho principal do Planck recolherá a radiação de microondas e a concentrará em dois conjuntos de detectores, que converterão esses sinais em medições de temperatura. Esse "termômetro" atípico será capaz de distinguir entre variações de milionésimos de grau Celsius na radiação. Essas variações, chamadas de anisotropias, são o indício de diferentes densidades na distribuição inicial da matéria no cosmos.
Essa radiação foi emitida 300 mil anos depois do Big Bang. Até então, a densidade cósmica era tão grande que toda a radiação se encontrava aprisionada em uma "sopa" de partículas. A radiação de fundo tinha, nesse época, uma temperatura de cerca de 3.000C, que foi caindo à medida que o Universo continuava sua expansão, até os -270,4C atuais.
Por isso, para poder estudar essa radiação, é necessário que os detectores estejam resfriados a temperaturas muito próximas da sua. Os dois detectores de microondas do Planck funcionarão abaixo de -253C, um deles a -272,9C, temperatura obtida graças a uma câmara criostática alimentada por hélio líquido.
O estudo das anisotropias da radiação cósmica de fundo permitirá abordar outras grandes questões cosmológicas, como a composição da chamada matéria escura e a da densidade da matéria.

Janela para as estrelas
Embora se trate de uma missão independente, a sonda Herschel (batizada em homenagem ao astrônomo britânico William Herschel), terá um trabalho complementar ao da Planck.
A faixa do espectro em que ela trabalhará permitirá a observação da poeira interestelar e dos objetos mais frios -e, portanto, mais escuros-, como os planetas extra-solares e os discos protoplanetários. Poderá ver as etapas anteriores ao nascimento de uma estrela e a gênese de um planeta, fenômenos geralmente inacessíveis aos instrumentos atuais, que não podem enxergar através da poeira cósmica em que eles ocorrem.
Assim como o Planck, o Herschel trabalhará a temperaturas próximas do zero absoluto.


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