São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2000


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GENOMA
Sequência de DNA abre caminho para novos diagnósticos e tratamentos
Anunciada decifração do código genético da espécie

France Presse
Da esq. para a dir., Craig Venter, da Celera, Bill Clinton e Francis Collins, do Projeto Genoma Humano, no anúncio em Washington


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O genoma humano foi mapeado e sua sequência estabelecida pela primeira vez na história da humanidade, anunciaram ontem o presidente norte-americano, Bill Clinton, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e representantes dos grupos rivais, o consórcio público internacional Projeto Genoma Humano (PGH) e a empresa norte-americana Celera.
Genoma é a coleção de genes com as instruções para produzir um ser humano. Seu sequenciamento (leitura) tem um impacto no conhecimento já comparado ao da descoberta da América, em 1492, da chegada do homem à Lua, em 1969, e da invenção do microprocessador, em 1970.
"É o mapa mais importante já produzido pela humanidade", disse Bill Clinton. "Cruzamos a fronteira em direção a uma nova era", afirmou Tony Blair. Para o cientista James Watson, que descobriu com Francis Crick a estrutura da dupla hélice do DNA em 1953, "é uma fonte gigantesca".
Os cientistas da Celera, presidida por Craig Venter, mapearam 98% e decifraram a exata sequência dos 3,1 bilhões de bases do DNA humano. O consórcio público PGH, que reúne representantes de seis países, entre eles EUA e Reino Unido, e é comandado por Francis Collins, dos Institutos Nacionais de Saúde (EUA), anunciou que conseguiu mapear 98% do genoma, mas só obteve a exata sequência de 85%.
Se o genoma humano fosse uma página de texto, a Celera teria todas as letras e algumas palavras. O desafio dos dois grupos agora é descobrir a sequência das palavras e as frases que elas formam. Todas as páginas juntas tomariam 200 listas telefônicas.
O evento deve revolucionar a medicina nos próximos anos. De posse dos dados, cientistas tentarão desenvolver tratamentos que atuem nos genes envolvidos no câncer de mama, por exemplo. Ou criar um remédio baseado na função da célula que faz com que pessoas não tenham mal de Parkinson. Ou evitar já na infância que infartos aconteçam.
Os resultados, no entanto, devem levar até 50 anos para aparecer. "É agora concebível que os filhos de nossos filhos só conheçam o termo "câncer" como uma constelação", disse Bill Clinton.
Há, ainda, uma forte questão ética envolvida na descoberta. De posse dos dados genéticos de uma pessoa que pode vir a desenvolver leucemia, por exemplo, empresas de seguro poderiam negar seus serviços, empregadores recusariam candidatos, mães interromperiam a gravidez. A novíssima bioética deve monopolizar os próximos debates.
Tanto Clinton quanto Blair destacaram esse aspecto, ontem. "Temos de garantir que essa poderosa informação não seja usada para que o homem se torne seu próprio criador ou invada a privacidade alheia", disse Tony Blair.
O Partido Democrata, o mesmo do presidente Bill Clinton, entrou no Congresso norte-americano com projeto de lei, semana passada, que torna as informações do genoma propriedade sigilosa do cidadão e proíbe qualquer forma de discriminação genética.


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