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AMBIENTE
Resultados serão apresentados durante a 3ª conferência do LBA, megaprojeto de pesquisa da floresta, em Brasília
Queimadas na Amazônia prejudicam agropecuária
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O desmatamento e as queimadas na Amazônia não são ameaças só ao clima do planeta. Novos
estudos, a serem apresentados a
de hoje a quinta-feira numa conferência em Brasília, indicam que
o uso do fogo está alterando o ciclo de nutrientes no solo da floresta, com impactos negativos tanto
para o crescimento da mata quanto para a agropecuária.
As pesquisas fazem parte do
LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na
Amazônia), um megaestudo iniciado em 1999 pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia que reúne
800 pesquisadores para tentar entender como o ecossistema amazônico funciona. O projeto inicia
hoje sua terceira conferência científica anual.
Fertilidade da terra
Um dos resultados a serem
apresentados é o de uma pesquisa
desenvolvida pelo americano Eric
Davidson, do WHRC (Instituto
de Pesquisa de Woods Hole, na sigla em inglês). Davidson analisou
solos nas terras baixas da região e
descobriu que, após ciclos repetidos de queimadas, a quantidade
de fósforo e nitrogênio no solo diminui. Ambos os elementos são
fundamentais para as plantas.
"Quando se fala do efeito da devastação sobre os solos, pensa-se
em lixiviação e erosão. Não se conhecia o efeito do fogo no ciclo de
nutrientes", disse à Folha o climatologista Carlos Nobre, do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), coordenador do LBA.
O fogo é extensivamente usado
para limpar áreas nas quais a floresta foi derrubada. Primeiro para
a agricultura, depois, quando o
solo se esgota, para a formação de
pastagens.
Os estudos de Davidson, no entanto, indicam que, em boa parte
dos solos amazônicos, as queimadas são um tiro no pé para a pecuária. "O fogo diminui a fertilidade dos solos. Quem se dá melhor é a vegetação pioneira [conhecida como capoeira] e as gramíneas perdem", disse Nobre.
Como seria de esperar numa região tão grande, o efeito não é o
mesmo em toda parte. Áreas de
solo mais fértil, como a região da
BR-364 ao sul de Porto Velho, em
Rondônia, não devem sofrer esgotamento de nutrientes. O problema é que essas áreas são minoria: apenas 15% dos 5 milhões de
quilômetros quadrados da Amazônia, estima Carlos Nobre.
Carbono
Outro estudo a ser apresentado
na conferência, realizado por um
grupo internacional de pesquisadores, mostra que florestas que
brotam em solos submetidos a
queimadas repetidas vezes crescem mais devagar.
O grupo, liderado por Daniel
Zarin, da Universidade da Flórida, com participação de cientistas
do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Inpa (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia), do
WHRC e de outras três universidades americanas, estudou a
quantidade de carbono "seqüestrado" em 90 áreas de capoeira.
Essas áreas foram classificadas
conforme o número de vezes em
que foram queimadas antes de virar floresta secundária.
Depois, os cientistas calcularam
a diferença entre a quantidade de
carbono acumulado na forma de
biomassa (folhas e troncos) em
cada área e a quantidade prevista
para esse tipo de floresta.
Eles descobriram que, em relação aos modelos, o seqüestro de
carbono -e, conseqüentemente,
o crescimento das árvores- nas
áreas queimadas cinco ou mais
vezes é mais lento do que nas
áreas que não foram queimadas
ou que foram queimadas uma ou
duas vezes.
Segundo os autores, os resultados indicam que programas para
desenvolver uma compensação a
pequenos proprietários por serviços ambientais, como o Proambiente, proposto pelo governo federal, deveriam incluir créditos
de carbono como forma de estimular a manutenção das florestas
secundárias, em vez de executar
seguidas limpezas da capoeira,
usando o fogo, para usar a terra
para agricultura ou pasto.
"Muita gente quer salvar a
Amazônia pelo que ela vai fazer
pelo clima do mundo e de outras
partes do Brasil", diz Carlos Nobre. "Mas, em primeiro lugar, há
os efeitos locais [da devastação],
na Amazônia, que você pode observar", afirma.
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