São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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ESPAÇO

Nasa conduz com sucesso o lançamento do Discovery, que deve levar suprimentos à estação internacional amanhã

Ônibus espacial volta à órbita, após 2 anos

Scott Audette/Associated Press
Às 11h39 de ontem, o ônibus espacial Discovery parte da plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, retomando os vôos tripulados americanos após mais de dois anos de interrupção

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dia com poucas nuvens na Flórida permitiu que a Nasa retomasse, após mais de dois anos de interrupção, sua rotina de vôos tripulados. A decolagem do ônibus espacial Discovery, ocorrida ontem precisamente às 11h39 (horário de Brasília), é anunciada pela agência espacial americana como o primeiro passo rumo à implementação da visão estabelecida pelo presidente George W. Bush de um eventual retorno à Lua e futuras viagens a Marte.
O vôo foi o mais perto que os engenheiros e técnicos puderam chegar de "perfeito", depois de tantos esforços para aperfeiçoar a segurança dos ônibus espaciais. O sensor do tanque de combustível que havia provocado o adiamento do lançamento, duas semanas atrás, não voltou a dar sinais de problema. Como a falha não havia sido elucidada, passará à lista dos mistérios sem resposta colecionados ao longo dos quase 50 anos pelos responsáveis por projetos de vôo espacial.
Um dos elementos mais importantes avaliados pela Nasa no vôo de ontem foi o desempenho do tanque externo. Espuma desprendida dele, no vôo do Columbia, em janeiro de 2003, acabou levando à destruição da nave, no retorno à atmosfera. A comissão de investigação do acidente determinou que a agência deveria descobrir um meio de impedir que a espuma continuasse a cair. Foi um dos requisitos que a Nasa assumidamente falhou em cumprir.
Ainda assim, o tanque foi redesenhado para que os destroços desprendidos fossem tão pequenos quanto possível. Ao que parece, deu certo, embora a nova câmera instalada no dorso do tanque tenha revelado alguns pedaços de espuma se soltando e indo ao chão. Para se certificar de que tudo correu bem, a tripulação do Discovery já cumpriu sua primeira missão ao chegar à órbita: a nave foi manobrada de forma que suas janelas superiores permitissem que os astronautas fotografassem e filmassem o tanque, em sua reentrada na atmosfera.
Essas imagens serão cruciais para determinar em que estado o grande invólucro de combustível chegou ao espaço, após uma viagem de quase nove minutos até uma órbita baixa ao redor da Terra. Mas só serão analisadas no terceiro dia do vôo (de 12 previstos), quando a tripulação transmitir os dados para o controle da missão, em Houston, Texas. Antes disso, o Discovery deverá gradualmente aumentar sua órbita até atingir a altitude de 354 km, para atracar com a ISS (Estação Espacial Internacional). O encontro do ônibus espacial com o complexo orbital está marcado para as 8h18 de amanhã, pelo horário de Brasília.
Ironicamente, o sucesso do ônibus espacial marca o início do fim para o projeto. Para implementar a visão de Bush, a Nasa precisava colocar as naves de volta à ativa o mais rápido possível, para terminar de construir a ISS e aposentar os veículos até 2010. Com isso resolvido, poderá então entrar de cabeça na construção de uma nave para o retorno tripulado à Lua.
E o sabor que o ônibus espacial deixará é agridoce, na melhor das hipóteses. Antes do acidente com o Columbia, a Nasa estimava a probabilidade de catástrofe num vôo das naves em 1 para 245. Agora, revisou o cálculo: 1 para 100. O histórico de vôos diz que um desastre acontece a cada 57 missões.


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