|
Próximo Texto | Índice
NEUROCIÊNCIA
Estudo suíço sugere que punição merecida provoca contentamento, mesmo quando há um preço a ser pago
Castigar ativa a região cerebral do prazer
LAURA NELSON
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A maioria de nós não consegue
deixar de esboçar um sorriso ao
infligir uma punição merecida a
alguém -e agora os cientistas sabem por quê. Uma equipe suíça
descobriu quais regiões ligadas ao
prazer em nossos cérebros são ativadas durante a vingança e que
continuamos a punir apesar do
custo embutido.
"Este é um dos primeiros estudos a analisar o castigo com mapeamento cerebral, e ele mostra
que existe um auxílio emocional
proeminente para garantir a satisfação", explica o psicólogo Brian
Knutson, na Universidade de
Stanford, na Califórnia (EUA).
Os cientistas costumam assumir a vingança como um ato irracional, que não oferece benefícios
a quem pune. Mas agora eles consideram que há um equilíbrio entre custos e vantagens potenciais,
sendo que o ganho é a agradável
sensação de satisfação.
"Os experimentos apóiam nossa hipótese de que as pessoas obtêm satisfação da punição e são
recompensadas por suas ações",
disse a neurocientista Dominique
de Quervain, da Universidade de
Zurique e autora do estudo publicado na revista "Science" (www.sciencemag.org).
A equipe montou uma tarefa
que envolvia punição por desonestidade, enquanto gravava a
atividade cerebral medida pela
quantidade de oxigênio radioativo usado. Durante a experiência,
15 homens participaram de jogos
com dinheiro real. Se alguém era
desonesto com o dinheiro, os demais escolheriam como puni-lo.
Os cientistas analisaram então
qual área cerebral seria ativada
enquanto os participantes escolhiam como punir seus colegas. A
equipe descobriu que uma parte
conhecida como estriato -que se
acredita ser importante para sensações como satisfação e excitação- se torna ativa.
Em seguida, os pesquisadores
analisaram se os voluntários infligiriam punições mesmo se lhes
custassem algo. A maioria escolheu impor o castigo até quando
lhes custava parte do dinheiro. No
caso, o estriato foi ativado, assim
como uma área chamada córtex
pré-frontal medial (CPFM).
Os cientistas acreditam que o
CPFM possui um papel no balanceamento de custos e benefícios,
assim os voluntários poderiam
decidir se seguiam adiante com a
vingança. "Se o castigo custa algo,
então há um tipo de processamento no córtex pré-frontal medial que decide se a ação vale a pena", disse Knutson.
A atividade de processamento
cerebral variou entre os participantes do experimento. "Os resultados refletem a experiência
cotidiana, algo que algumas pessoas aplicam muito mais atenção
do que outras quando punem",
afirma De Quervain.
Até hoje, o comportamento não
foi observado em animais, apenas
em humanos. E quanto a mulheres? "Essa é uma questão interessante", diz Knutson. "Algumas
pessoas dizem que os homens seriam mais agressivos ao infligir
um castigo, mas outros acreditam
que não há nada como o desprezo
das mulheres."
Próximo Texto: Panorâmica - Ambiente: Pesca recreativa faz mais danos que o esperado Índice
|