São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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AIDS

Proteínas isoladas do sangue de indivíduos resistentes bloqueiam ação do vírus

Grupo acha defesa natural anti-HIV

MAGGIE FOX
DA REUTERS

Pesquisadores de Aids anunciaram ontem ter identificado uma substância procurada há muito tempo, que permite a algumas pessoas viver com o vírus HIV por décadas sem adoecer.
Eles esperam poder usar o composto, que consiste em três proteínas chamadas alfa-defensinas, para desenhar drogas mais eficientes contra o vírus, que infecta 40 milhões de pessoas no mundo.
"Não será a solução final, mas é mais uma arma no nosso arsenal contra o HIV", disse David Ho, da Universidade Rockefeller (EUA), coordenador do estudo.
As proteínas são feitas por células CD8-T, do sistema imunológico, e bloqueiam a atividade do vírus. Já era sabido que células CD8 em alguns infectados pelo HIV estavam fazendo algo de especial, mas ninguém sabia o quê.
Esses pacientes, chamados não-progressores de longo prazo, podem viver décadas sem desenvolver os sintomas da Aids, e há 16 anos os médicos tentam descobrir o que eles têm de diferente.
Ho e seu grupo usaram chips de proteína (dispositivos que ajudam a identificar proteínas feitas por uma célula) para achar as alfa-defensinas. Eles ainda não sabem como elas bloqueiam o HIV.
Alguns cientistas disseram que o estudo de Ho, publicado hoje na revista "Science", não explicava toda a questão dos não-progressores -que poderiam produzir outras substâncias contra o HIV.
Mas Robert Siciliano, pesquisador de HIV da Universidade Johns Hopkins, também nos EUA, diz que o estudo responde a muitas questões. "Até agora não estava claro quais eram os componentes da atividade antiviral."
O grupo de Rockefeller disse que, quando retirou as alfa-defensinas e um grupo de moléculas chamadas beta-quimioquinas das células CD8 de não-progressores de longo prazo, elas pareciam tão vulneráveis ao HIV quanto células de indivíduos comuns.
A resistência desses indivíduos, no entanto, não significa imunidade: as células CD8 cortam a atividade do vírus de 40% a 60%, mas eles acabam adoecendo.
Ho se disse animado com o estudo, mas pede calma. "Acho que não está totalmente claro se podemos pegar essa descoberta e transformar numa terapia útil", afirmou o pesquisador.


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