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Preço é maior barreira para enterrar CO2
Medida combate aquecimento global, mas custo de separar gás e enviá-lo para subsolo em larga escala ainda é elevado
Planeta precisa reverter aumento de emissões até o ano de 2020; a captura e o armazenamento de carbono não serão viáveis a tempo
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Capturar, sequestrar, enterrar. São fortes os verbos que
descrevem a ideia de tirar o CO2
das chaminés de usinas e de
poços de petróleo e enviá-lo
para reservatórios profundos,
livrando a atmosfera de grandes quantidades do gás-estufa.
Parece uma solução brilhante,
mas está cada vez mais claro
que o tempo para que a tecnologia seja viável em larga escala
é grande demais para que ela
seja protagonista na briga contra o aquecimento global.
Em artigo publicado na última edição da revista "Science",
Stuart Haszeldine, geólogo da
Universidade de Edimburgo,
especula que a CCS (sigla em
inglês para captura e armazenamento de carbono), nome
dado a esse mecanismo, levaria
ao menos dez ou 20 anos para
se tornar praticável. Parece
pouco, mas é muito.
Isso porque, segundo as projeções do IPCC (o painel do clima da ONU), a humanidade
precisa parar de aumentar as
suas emissões de CO2 até 2020
para evitar um desastre climático. Cedo demais para a CCS.
A essa altura, a tecnologia estaria, com otimismo, apenas começando a se tornar relevante.
Como a maior parte da energia utilizada pelas indústrias do
mundo não é limpa - 85% do
que elas consomem está relacionado à queima de combustíveis fósseis, como o carvão mineral-, o cenário é turvo.
O problema é mais financeiro do que tecnológico. O CO2 já
é injetado na terra há décadas.
Inicialmente, isso era feito para ajudar a extrair petróleo. O
CO2 entra no reservatório, aumenta a pressão e faz o óleo subir. Na semana passada, uma
usina a carvão nos Estados
Unidos começou a produzir
energia elétrica "limpa" a partir do carvão utilizando CCS. Já
se sabe como fazer.
Mas não se sabe como pagar.
"O grande desafio é custo. Especialmente na primeira etapa,
quando ocorre a separação do
CO2 nas fontes. A concentração
de nitrogênio [na mistura de
gases emitidos pelas usinas] é
muito alta. Só algo entre 4% e
15% é CO2, esse processo ainda
é muito caro", diz Rafael Bianchini, sócio da Climate Consulting (leia texto abaixo).
"Por mais que exista CCS,
em vista dos impactos [da mudança climática], a situação é
de caos. Não dá para pensar
que, por causa de CCS, posso
ter luz incandescente em casa."
"Hoje, [a CCS] está sendo
utilizada como álibi para construir usinas a carvão em vez de
investir em novas usinas renováveis", diz o engenheiro Ricardo Baitelo, do Greenpeace.
Pré-sal
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou em
agosto que a extração do petróleo na camada pré-sal precisaria ter CCS, para evitar que as
emissões brasileiras de CO2 explodissem com a exploração
-além do carbono contido no
próprio óleo, os poços do pré-sal contêm muito CO2, que seria lançado na atmosfera durante a exploração.
Mas o marco regulatório do
pré-sal, divulgado semanas depois, não tratou do assunto,
apesar de incluir a área ambiental na divisão do bolo a ser
criado com a renda do petróleo.
O assunto continua em aberto. "Vamos ver qual vai ser a
tecnologia, se será viável. Não
dá para dizer [que a CCS não
dará certo no pré-sal] e aí nem
discutir, simplesmente enterrar o assunto", diz Minc.
Por um lado, a Petrobras
afirmou à Folha que considera
"prematuro divulgar estimativa de custos para aplicação [de
CCS] no (...) pré-sal". Por outro, ela "se compromete a reinjetar 100% do CO2" produzido
na exploração.
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