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Desmatamento cai 30%, diz governo
Estimativa do Inpe, ainda com dados parciais, mostra que Amazônia perdeu 13,1 mil km2 de floresta entre 2005 e 2006
Dados foram apresentados ontem em Brasília, a três dias da eleição; governo diz
que pressa é por causa de encontro de clima na África
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A três dias do segundo turno
das eleições, o governo Lula
anunciou uma previsão de queda de 30% na taxa de desmatamento da Amazônia em 2006.
O dado resulta de uma análise
parcial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
e foi comemorado como o segundo menor desmatamento já
medido na região.
O anúncio foi feito ontem no
Palácio do Planalto, com a presença de Lula e dos ministros
Marina Silva (Meio Ambiente),
Dilma Roussef (Casa Civil) e
Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia). Ele se segue a uma redução já esperada e pelo segundo ano consecutivo.
"Esta é a segunda menor taxa
registrada desde que o Inpe começou fazer suas medições
anuais, em 1988", declarou o diretor do instituto, Gilberto Câmara. A estimativa é que, de
agosto de 2005 a agosto deste
ano, tenham tombado 13,1 mil
quilômetros quadrados de floresta, pouco mais que uma Jamaica (61% disso de forma ilegal). Em toda a série histórica,
que teve início no biênio 1988-1989, o número só é maior que a
taxa de 1991 -11,3 mil quilômetros quadrados-, quando o plano Collor congelou a poupança.
"Conseguimos, além de segurar o touro, baixar sua cabeça",
brincou a ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva.
O cálculo apresentado ontem, segundo admitiu o próprio
governo, é apressado. Para produzir a estimativa de 2006 (que
vai de agosto de 2005 a agosto
deste ano), o Inpe usou apenas
34 imagens de um total de 220
analisadas anualmente pelo
Prodes, sistema que estima a
mudança na cobertura florestal
na Amazônia. Segundo Câmara, essas imagens correspondem a dois terços do desmatamento amazônico.
Em comparação, para produzir a estimativa da devastação
no ano de 2004-2005, foram
usadas 77 imagens, que capturavam 92% do desmatamento.
O governo atribui a pressa ao
fato de que o anúncio precisava
ser feito antes da COP-12 (12ª
Conferência das Partes) da
Convenção do Clima da ONU,
que começa no próximo dia 6
em Nairóbi, no Quênia. No
evento, Marina Silva apresentará a proposta brasileira de
fundo internacional para compensar os países tropicais que
desacelerarem o desmatamento, contribuindo assim para reduzir o total de gás carbônico (o
principal causador do efeito estufa) na atmosfera.
A avaliação do governo é que
é politicamente importante o
Brasil mostrar, com duas quedas expressivas seguidas na devastação (em 2005 a redução
na taxa foi de 31%), que o desmatamento pode ser contido.
"Se eu tivesse mais um mês
[para processar os dados], teria
ficado muito mais tranqüilo",
afirmou Câmara. Ele diz, no entanto, que o número consolidado de todas as 220 imagens do
Prodes -a ser apresentado em
dezembro- deve variar em, no
máximo, 10%.
Dados seguros
Ambientalistas negaram ver
uso eleitoral na divulgação da
taxa do desmatamento amazônico. "Confio nesses números.
A estatística é segura. Seria um
erro muito primário que o dado
consolidado desse algo muito
diferente disso", disse à Folha
Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia).
Mauro Armelin, do WWF,
concorda. "Os números são
bons." Ele lembra, no entanto,
que mesmo com a tendência à
queda o governo do presidente
Lula viu desaparecerem, em
quatro anos, 84 mil quilômetros quadrados de Amazônia.
Em comparação, nos dois governos FHC o desmatamento
foi de 77,7 mil e 74,7 mil quilômetros quadrados.
Marina atribuiu a queda a
ações do governo, como as operações da Polícia Federal e do
Ibama contra o desmatamento
e a grilagem de terras, além da
criação de 20 milhões de hectares em unidades de conservação. Citou ainda a Lei de Florestas Públicas, que prevê a
concessão de terras para a exploração sustentável de madeira, e rebateu a tese de que a redução foi por causa da crise do
agronegócio. "Seria simplismo
e reducionismo achar que o
que aconteceu foi por causa do
preço das commodities."
Lula aproveitou para elogiar
a ministra. "Você está provando que é possível, ao invés de a
gente proibir, a gente continuar ensinando a fazer as coisas certas neste país." O presidente também criticou, indiretamente, sugestões recentes de
privatização da Amazônia feitas por um ministro britânico.
"O domínio soberano do
nosso território é inquestionável, e quem quiser conhecer a
Amazônia precisa pedir licença
para o Brasil; quem quiser explorar também precisa pedir licença para o Brasil."
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