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AMBIENTE
Ibama lança selo de origem conferido eletronicamente para substituir autorização de transporte, sujeita a fraude
Código de barra pode deter madeira ilegal
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) lançou ontem um sistema informatizado de
controle da atividade madeireira
que promete dificultar a exploração ilegal na Amazônia.
A idéia do Sisprof (Sistema Integrado de Monitoramento e Controle dos Recursos e Produtos
Florestais) é substituir a partir de
março de 2003 as autorizações para transporte de produtos florestais, ou ATPFs, por um selo em
código de barras que contém informações sobre a origem da madeira, a espécie e o volume que está sendo transportado.
Essas informações poderão ser
verificadas por fiscais do Ibama
durante o transporte -usando
uma leitora de código de barras
comum- e deverão ser conferidas a partir de informações disponíveis na base de dados do Sisprof
quando a madeira for vendida para uma serraria, por exemplo. Se
não baterem, o dono da serraria
não poderá vendê-la depois.
O sistema de autorização hoje
em vigor, que usa ATPFs, está sujeito a fraude. Segundo o Ibama,
cerca de 60% de todos os produtos florestais comercializados no
país têm origem ilegal. Para o
Greenpeace, 80% da madeira exportada pelo Brasil é clandestina.
"As ATPFs são como um cheque em branco para o madeireiro", diz Paulo Barreto, do Imazon
(Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em Belém.
Para obter uma ATPF, o madeireiro precisa solicitar uma licença
de exploração ao Ibama, dizendo
quantos metros cúbicos de que
espécies ele pretende explorar naquele ano. A autorização é concedida com base nessa declaração,
que nem sempre é averiguada em
campo devido à falta de fiscais.
Cada ATPF dá o direito de transportar de 10 a 12 m³ de madeira.
A fraude acontece de várias formas: primeiro, devido à falta de
fiscalização na estrada, o madeireiro usa uma só autorização para
transportar vários carregamentos. "Como a ATPF não tem código nem numeração, ele faz dez
viagens", disse à Folha Paulo Fontes, coordenador de gestão de recursos florestais do Ibama.
Outro trambique possível é usar
uma ATPF para uma madeira
mais barata para transportar
mogno, por exemplo. Ou, simplesmente, comprar ATPFs no
mercado negro. Na Amazônia, segundo um relatório da ONG Amigos da Terra, uma autorização
custa até R$ 15 no "paralelo".
Fontes diz que, com o selo, que
deverá substituir todas as ATPFs
dentro de seis meses, isso deve
acabar. "Vamos poder acompanhar o fluxo da madeira. O comprador precisará dar baixa [obter
um OK do Ibama] nos selos do
que ele está comprando para obter um outro selo para vender". Se
o vendedor trapacear, prejudica o
comprador e não poderá vender
para ele outra vez.
Barreto diz não ver muita diferença entre o selo e a ATPF. "Antes era um cheque, agora são cédulas", afirma. "Em Minas Gerais,
onde o selo começou a ser usado
[em carvoarias], o pessoal "economizava" selos e explorava o cerrado do sul da Bahia". Para ele, o código de barras só funcionará se a
fiscalização em campo aumentar
-algo difícil na Amazônia.
Um sistema mais eficiente de
controle, segundo o engenheiro
florestal do Imazon, é o que começará a ser testado pelo programa Pró-Manejo, também do Ibama, no primeiro semestre de
2003: o rastreamento eletrônico
de caminhões e jangadas com carregamento de madeira.
Por meio de satélite, seria possível localizar a qualquer momento
os veículos e saber quanto cada
veículo estaria transportando, e
para onde. Se um caminhão (que
transporta cerca de 10 m³) declarar que está transportando menos
madeira, os fiscais já teriam uma
pista de onde está a irregularidade, já que, por uma questão de
custo, as cargas são sempre as máximas. "O que estou propondo é
eliminar autorizações em papel."
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