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Mudança em padrão de vida gerou migração
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Num piscar de olhos geológico,
talvez 100 mil anos, o Homo erectus saiu da África e chegou à Indonésia, tornando-se o primeiro
ancestral da humanidade a colonizar o planeta. Essa expansão,
concluída há 1,7 milhão de anos,
pode ter tido motivações prosaicas: os hominídeos estavam em
crescimento e faltou comida.
É o que sugere o modelo de William Leonard, Marcia Robertson
e Susan Antón para explicar a saída dos hominídeos da África, publicado este mês no "Journal of
Human Evolution" (www.academicpress.com/jhevol). Com base no aumento do H. erectus e nas
mudanças em sua dieta, calcularam que ele precisaria de uma
área até dez vezes maior que a
usada pelos hominídeos mais antigos para conseguir se manter.
Durante muito tempo, o sucesso na expansão foi atribuído à invenção de machados de pedra
mais eficientes, há 1,4 milhão de
anos. Mas achados recentes mostraram que o H. erectus já estava
na ilha de Java, Indonésia, por
volta de 1,8 milhão de anos atrás.
Isso sugere que a tecnologia não
tenha sido o fator-chave. Mudanças fundamentais aconteceram
no próprio corpo dos hominídeos: o H. erectus é o primeiro a
andar da mesma forma que o homem moderno, a ter a mesma estatura média (1,70 m) e a ter um
aumento significativo do cérebro.
Foi seguindo essa pista que Leonard e suas colegas começaram a
desenvolver o modelo. Antón, da
Universidade Rutgers, tentou estimar a velocidade anual de expansão do H. erectus e compará-la à de outros primatas. Leonard e
Robertson, da Universidade
Northwestern, usaram dados de
primatas modernos e de grupos
de caçadores-coletores para testar
a correlação entre dieta, tamanho
do corpo e área exigida por cada
indivíduo para se sustentar.
O H. erectus derrota de goleada
seus concorrentes primatas. Enquanto os macacos venciam de
0,1 km a 0,2 km por ano, o hominídeo avançava a 2,4 km por ano.
Para os pesquisadores, a explicação está na relação entre o tamanho corporal das espécies de
primata e a área de que elas necessitam para sobreviver.
Somente o aumento corporal já
faria dos H. erectus uma espécie
duas vezes mais necessitada de espaço que seus parentes australopitecos. Quando um consumo
moderado de carne é incluído, a
área exigida fica dez vezes maior.
"Nosso modelo pressupõe apenas um aumento muito modesto
na alimentação de origem animal,
que corresponderia a cerca de
30% da dieta", diz Leonard.
Para o antropólogo, a mudança
climática pode ter estado na raiz
das mudanças alimentares e morfológicas da humanidade primitiva. "A África estava passando por
um período de seca que diminuiu
as florestas e abriu espaço para as
savanas. Dessa forma, menos comida vegetal ficou disponível. O
Homo erectus, aparentemente,
começou a incorporar essa rica
alimentação animal em sua dieta", especula o pesquisador.
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