|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Marina Silva dividiu o prejuízo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Marina Silva pode ser criacionista, mas boba ela não é.
Ao apressar-se em divulgar
os dados parciais do Inpe sobre o desmatamento na
Amazônia e fazê-lo na última
quarta-feira, numa solenidade (ou "fuzuê", como definiu
o diretor do Inpe, Gilberto
Câmara) pública, a ministra
do Meio Ambiente jogou o
problema no colo de quem é
de direito: o presidente Lula
e a ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff.
Pouca gente lembra, mas é
de Dilma a responsabilidade
última pela luta contra o desmatamento. Foi-lhe imputada em 2004, quando Lula
concordou que a coordenação do então recém-criado
Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento seria
da Casa Civil.
Em tese, sempre em tese,
Dilma coordena ações de outros 13 ministérios. Na prática, só Meio Ambiente e Justiça (via PF) se mexeram para tentar estancar a sangria
imposta à Amazônia (60% do
país) pelo "setor produtivo".
A omissão mais notável foi
do Ministério da Agricultura.
A pasta foi encarregada em
2004 para descobrir meios
de ocupar os estimados 165
mil quilômetros quadrados
(um Acre) de áreas degradadas na Amazônia, revertendo-as para produção. Não fez
nada. Sua única grande contribuição foi gastar dinheiro
do combate à derrubada na
erradicação da febre aftosa.
Algo que fez o desmatamento crescer: o sul do Pará é zona livre de aftosa desde 2007.
Nesse período, Dilma preferiu dedicar suas energias a
grandes desígnios: petróleo e
infra-estrutura. A Amazônia
só passou por sua cabeça na
hora de licenciar duas hidrelétricas em Rondônia.
Sobre isso os dados do Inpe também trazem uma má
notícia: nos últimos cinco
meses de 2007, aquele Estado teve uma área absoluta
desmatada quase igual à do
Pará. Só que com 20% do território deste. Gente que viu o
mapa aposta que é mais do
que coincidência que justamente naquele semestre tenha saído a licença prévia das
usinas do Madeira.
Como a Casa Civil dificilmente fará como o chefe da
Agricultura, que preferiu negar os números, supõe-se
que o fuzuê de Marina Silva
ajude a sacudir o governo.
Texto Anterior: Pecuarista rejeita rótulo de "vilão" da natureza Próximo Texto: Tempestades mudam a face de Júpiter Índice
|