São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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CIÊNCIA
Pesquisa internacional mostra que expansão do cosmos pode ser mais rápida do que se supõe
Universo cresce mais depressa, diz estudo

RICARDO ZORZETTO
da Reportagem Local

O Universo pode estar se expandindo mais rapidamente do que os cientistas imaginam, segundo estudo realizado por um grupo internacional de pesquisadores, publicado na edição de ontem da revista norte-americana "Science".
Os resultados da pesquisa sugerem a existência de uma força de repulsão no Universo, que havia sido prevista pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) e que aumentaria a velocidade com que os corpos celestes se afastam.
Essa força, que os pesquisadores chamaram de antigravitacional, agiria superando a atração da gravidade sobre os corpos, provocando a expansão contínua do Universo, sem a possibilidade, formulada pelo norte-americano Edwin Hubble em 1930, de os corpos celestes virem a se colidir.
A equipe de Adam Riess, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e colaboradores dos EUA, da Europa, da Austrália e da América Latina, constataram essa força antigravitacional ao medir a radiação emitida por supernovas.
Supernovas são estrelas com massa várias vezes maior que a do Sol e que colapsaram devido à ação da gravidade depois de consumir seu combustível nuclear. No auge dessas explosões, o brilho emitido pode ser mais intenso do que uma galáxia com bilhões de estrelas.
As observações mostraram supernovas que se encontravam mais distantes do que indicavam as estimativas existentes.
Apesar de os cientistas afirmarem que os resultados têm confiabilidade entre 98,7% e 99,99%, eles dizem esperar confirmações de seu estudo por outros.
"Se a descoberta for confirmada, ela terá implicação fundamental para o estudo do Universo, o conhecimento da idade das galáxias e, eventualmente, até para a determinação do período em que surgiu a vida na Terra", afirma Laerte Sodré Júnior, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo.
Partindo do princípio de que o Universo seria estático, Einstein obteve em seus cálculos a chamada constante cosmológica.
Sem essa constante, na teoria da relatividade geral de Einstein, anunciada em 1917, os corpos celestes se afastariam a velocidades cada vez menores. Depois, devido à gravidade, esses corpos se aproximariam até colidirem.
Após Hubble (1889-1953) demonstrar exatamente essa expansão seguida de colisão, Einstein teria dito que a formulação da constante teria sido um grande erro.
Uma das hipóteses para a origem dessa força de repulsão seria uma forma de energia atribuída ao vácuo por teorias da física moderna, segundo Hélio Fagundes, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista.



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