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ESPAÇO
Luiz Carlos Miranda pede exoneração após confrontar mudanças que centralizaram recursos na agência espacial
Disputa por verba derruba diretor do Inpe
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na culminação de um conflito
travado com a AEB (Agência Espacial Brasileira) e com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o diretor do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), Luiz Carlos Moura Miranda, pediu sua
exoneração na tarde de anteontem, em Brasília. O ministro
Eduardo Campos o recebeu, aceitou o pedido e já estão sendo tomadas medidas para a sucessão.
Segundo informações do MCT,
o ministro estará em São José dos
Campos (interior de São Paulo)
na sexta-feira da semana que vem
para anunciar a saída de Miranda
e a efetivação de Leonel Perondi
como diretor interino do Inpe.
Eduardo Campos também anunciará a formação de um comitê de
busca, composto por membros
da comunidade científica, que irá
apontar três candidatos. O novo
diretor será determinado pelo ministro, com base na lista tríplice.
A crise que levou ao pedido de
demissão se instaurou em razão
de discordâncias sobre a nova Lei
Orçamentária 11.100, adotada em
2005, que repassou várias das
ações sobre as quais o Inpe era o
responsável direto para a Agência
Espacial Brasileira. A medida veio
atender vários protestos manifestados após a investigação do acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), que matou 21
técnicos em agosto de 2003.
Na ocasião, havia ficado claro
que a AEB, embora criada para
coordenar o programa espacial,
não tinha poder suficiente de gerenciamento sobre os órgãos executores do programa, o Inpe e o
IAE (Instituto de Aeronáutica e
Espaço), este ligado ao Centro
Técnico Aeroespacial da Força
Aérea. Com o novo arranjo incorporado à lei orçamentária adotada em 2005, o grosso do orçamento do programa espacial ligado ao
MCT passou a ficar na AEB, e o
Inpe, em vez de receber diretamente os recursos, passou a ter de
requisitá-los à agência. Isso não
agradou a diretoria do Inpe, que
estava acostumada à autonomia.
As novas regras também obrigaram o instituto a prestar contas
trimestralmente à AEB, em vez de
anualmente, como era a praxe
-atitude que também não teria
agradado ao instituto.
Numa carta enviada aos membros do Conselho Superior da
AEB em 11 de março e obtida pela
Folha, o diretor do Inpe, Miranda, apresentava uma declaração
de guerra às medidas. Enquanto
se recusava a falar com a imprensa sobre o assunto, ele argumentava ao Conselho Superior (instância máxima da AEB) que as
mudanças estavam descaracterizando o papel do instituto no programa espacial, além de burocratizar em demasia os procedimentos para a obtenção de recursos,
impedindo o Inpe de cumprir
seus compromissos assumidos.
Ao final da carta, Miranda direciona suas críticas ao presidente
da AEB, Sérgio Gaudenzi. "Nosso
instituto está perplexo e indignado com a falta de consideração
que o atual presidente da AEB demonstrou para com uma instituição de renome internacional e da
qual todo brasileiro se orgulha",
escreveu. "Não é com ações desse
tipo que a AEB será respeitada e
conquistará a liderança do programa espacial brasileiro."
Influência política
Segundo a Folha apurou, a diretoria do Inpe percebeu as mudanças como uma iniciativa de favorecimento político, uma vez que
Eduardo Campos e Sérgio Gaudenzi pertencem ao mesmo partido, o PSB. Diante do pedido de
exoneração de Miranda, uma nota do SindCT (Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área
de Ciência e Tecnologia), em São
José dos Campos, especulava que
o novo diretor do instituto, escolhido pelo ministro, também viria
do PSB. O MCT nega as insinuações e diz que os nomes partirão
de um comitê de busca formado
por membros da comunidade
científica, como é praxe para todos os institutos de pesquisa. A
AEB disse, por sua assessoria de
imprensa, que "isso é assunto entre Miranda e o ministro".
Sobre o caso, a Associação Aeroespacial Brasileira, organização
de engenheiros que monitora o
programa espacial, declarou que
acredita no processo de escolha
do diretor. "A associação espera
que o nome a ser indicado tenha a
mistura adequada de atributos requeridos", diz Petrônio Noronha
de Souza, diretor da associação.
Procurado pela Folha, o ministro Eduardo Campos preferiu não
se manifestar sobre o caso. Até o
fechamento desta edição, Miranda não pôde ser localizado.
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