São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2005

Próximo Texto | Índice

ESPAÇO

Luiz Carlos Miranda pede exoneração após confrontar mudanças que centralizaram recursos na agência espacial

Disputa por verba derruba diretor do Inpe

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na culminação de um conflito travado com a AEB (Agência Espacial Brasileira) e com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Luiz Carlos Moura Miranda, pediu sua exoneração na tarde de anteontem, em Brasília. O ministro Eduardo Campos o recebeu, aceitou o pedido e já estão sendo tomadas medidas para a sucessão.
Segundo informações do MCT, o ministro estará em São José dos Campos (interior de São Paulo) na sexta-feira da semana que vem para anunciar a saída de Miranda e a efetivação de Leonel Perondi como diretor interino do Inpe. Eduardo Campos também anunciará a formação de um comitê de busca, composto por membros da comunidade científica, que irá apontar três candidatos. O novo diretor será determinado pelo ministro, com base na lista tríplice.
A crise que levou ao pedido de demissão se instaurou em razão de discordâncias sobre a nova Lei Orçamentária 11.100, adotada em 2005, que repassou várias das ações sobre as quais o Inpe era o responsável direto para a Agência Espacial Brasileira. A medida veio atender vários protestos manifestados após a investigação do acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), que matou 21 técnicos em agosto de 2003.
Na ocasião, havia ficado claro que a AEB, embora criada para coordenar o programa espacial, não tinha poder suficiente de gerenciamento sobre os órgãos executores do programa, o Inpe e o IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), este ligado ao Centro Técnico Aeroespacial da Força Aérea. Com o novo arranjo incorporado à lei orçamentária adotada em 2005, o grosso do orçamento do programa espacial ligado ao MCT passou a ficar na AEB, e o Inpe, em vez de receber diretamente os recursos, passou a ter de requisitá-los à agência. Isso não agradou a diretoria do Inpe, que estava acostumada à autonomia. As novas regras também obrigaram o instituto a prestar contas trimestralmente à AEB, em vez de anualmente, como era a praxe -atitude que também não teria agradado ao instituto.
Numa carta enviada aos membros do Conselho Superior da AEB em 11 de março e obtida pela Folha, o diretor do Inpe, Miranda, apresentava uma declaração de guerra às medidas. Enquanto se recusava a falar com a imprensa sobre o assunto, ele argumentava ao Conselho Superior (instância máxima da AEB) que as mudanças estavam descaracterizando o papel do instituto no programa espacial, além de burocratizar em demasia os procedimentos para a obtenção de recursos, impedindo o Inpe de cumprir seus compromissos assumidos.
Ao final da carta, Miranda direciona suas críticas ao presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi. "Nosso instituto está perplexo e indignado com a falta de consideração que o atual presidente da AEB demonstrou para com uma instituição de renome internacional e da qual todo brasileiro se orgulha", escreveu. "Não é com ações desse tipo que a AEB será respeitada e conquistará a liderança do programa espacial brasileiro."

Influência política
Segundo a Folha apurou, a diretoria do Inpe percebeu as mudanças como uma iniciativa de favorecimento político, uma vez que Eduardo Campos e Sérgio Gaudenzi pertencem ao mesmo partido, o PSB. Diante do pedido de exoneração de Miranda, uma nota do SindCT (Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia), em São José dos Campos, especulava que o novo diretor do instituto, escolhido pelo ministro, também viria do PSB. O MCT nega as insinuações e diz que os nomes partirão de um comitê de busca formado por membros da comunidade científica, como é praxe para todos os institutos de pesquisa. A AEB disse, por sua assessoria de imprensa, que "isso é assunto entre Miranda e o ministro".
Sobre o caso, a Associação Aeroespacial Brasileira, organização de engenheiros que monitora o programa espacial, declarou que acredita no processo de escolha do diretor. "A associação espera que o nome a ser indicado tenha a mistura adequada de atributos requeridos", diz Petrônio Noronha de Souza, diretor da associação.
Procurado pela Folha, o ministro Eduardo Campos preferiu não se manifestar sobre o caso. Até o fechamento desta edição, Miranda não pôde ser localizado.


Próximo Texto: Panorâmica - Genética: Mosca mutante passa bem com pouco sono
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.