|
Próximo Texto | Índice
Egípcios identificam múmia de rainha
Dente solto achado em uma caixa de madeira revela que múmia indigente era de Hatshepsut, que reinou no século 15 a.C.
Soberana morreu aos 50
anos, obesa e com câncer;
seu corpo é 1ª múmia de
monarca identificada no
país desde Tutancâmon
France Presse/Discovery Channel
 |
Múmia da rainha Hatshepsut, que morreu com cerca de 50 anos em mau estado de saúde, vítima de obesidade, diabetes e câncer |
DA REDAÇÃO
A múmia de uma mulher
obesa, que tinha diabetes e
morreu de câncer no fígado, foi
identificada como sendo a da
mais poderosa rainha do antigo
Egito. A descoberta, considerada o achado do século no país,
foi feita graças a um dente.
Zahi Hawass, chefe do Conselho Superior de Antigüidades
do país, anunciou ontem em
uma entrevista coletiva ter
identificado uma múmia achada em 1903 no Vale dos Reis como a da rainha Hatshepsut, a
grande monarca da 18ª Dinastia do Egito. Ele descreveu o
achado como "o mais importante no Vale dos Reis desde a
descoberta de Tutancâmon".
Hatshepsut subiu ao poder
em 1479 a.C., após a morte de
seu marido e meio-irmão Tutmés 2º. Seu enteado (filho do
marido com uma concubina),
Tutmés 3º, era muito jovem para assumir o trono, então a "primeira das mulheres nobres"
(significado de seu nome) permaneceu como co-regente durante 22 anos.
Durante esse tempo, Hatshepsut se mostrou uma governante voluntariosa e ambiciosa, uma das maiores tocadoras
de obras do Novo Império e a
monarca que mais fez para que
o Egito se tornasse o país rico
que se tornaria depois, no reinado de Tutancâmon.
Quando morreu, com cerca
de 50 anos, ela deixou um esplêndido templo mortuário
-mas sua múmia não estava lá.
Para frustração dos arqueólogos, as múmias reais egípcias
freqüentemente eram removidas de suas tumbas originais e
escondidas em locais discretos,
para driblar saqueadores. Marcas que as identificassem freqüentemente se perdiam nesses transportes.
O britânico Howard Carter,
que em 1922 descobriria o túmulo de Tutancâmon, chegou a
achar a câmara mortuária de
Hatshepsut, mas os dois sarcófagos dentro dela estavam vazios. O paradeiro do corpo da
rainha permaneceu um dos
maiores mistérios do Egito.
Sua identificação só aconteceu há dois meses, quando a
equipe de Hawass realizou uma
tomografia em uma caixa de
madeira que trazia o nome da
rainha. Dentro dela havia um
fígado humano e um dente.
O dente foi examinado pelo
dentista Galal El-Beheri, da
Universidade do Cairo, a pedido de Hawass. Ele descobriu
que a peça se encaixava perfeitamente na raiz quebrada de
um dente da múmia de uma
mulher obesa, encontrada por
Carter em 1903 numa tumba
pequena e sem decoração no
Vale dos Reis, a KV60.
A tumba continha duas múmias: uma num caixão com a
inscrição "ama real" e outra
sem identificação alguma.
Em uma visita recente à
KV60, Hawass examinou a múmia obesa. Seu braço esquerdo
estava dobrado com a mão sobre o ombro. As unhas da mão
esquerda estavam pintadas de
vermelho, com contorno preto.
Alguns egiptólogos, no passado, chegaram a suspeitar que a
múmia obesa poderia ser de
Hatshepsut. Mas havia nada
menos que cinco múmias também suspeitas.
A prova veio depois que o
Discovery Channel instou Hawass a usar tecnologia médica
moderna na identificação da
múmia -o que ele achava que
não daria resultado- e bancou
a instalação de um laboratório
no Museu Egípcio, no Cairo.
As seis múmias passaram por
tomografias, bem como a caixa
com o nome da rainha, encontrada em uma outra tumba.
"A caixa guardava a chave do
enigma", disse Hawass. "Agora
nós temos a prova científica de
que esta é a múmia da rainha
Hatshepsut", afirmou, citando
principalmente o dente mas
também análises preliminares
de DNA que ligam a mulher
obesa a Ahmés Nefertari, a matriarca da 18ª Dinastia.
Egiptólogos que não trabalharam no projeto dizem que a
evidência é fascinante, mas que
ainda é cedo para afirmações
tão contundentes.
Com "Independent" e "New York Times"
Próximo Texto: Genética: Pesquisa isola novo tipo de célula-tronco Índice
|