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Alemanha pode adiar anúncio sobre Proálcool
DA ENVIADA A JOHANNESBURGO
A Alemanha recuou de última hora na decisão de anunciar na próxima semana, durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10), em
Johannesburgo (África do Sul), a produção de 100 mil carros a álcool no Brasil, com tecnologia brasileira. O Itamaraty e setores técnicos do governo atuam para
tentar reverter o recuo e manter a data anteriormente acertada.
O anúncio do projeto Brasil-Alemanha, que vinha sendo saudado pelos dois países pelo caráter ambientalmente saudável, seria feito em grande estilo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo chanceler alemão Gerhard Schröder em Johannesburgo, para aproveitar a Rio +10.
Há duas versões para o adiamento. Uma, mais simplista, é que o governo alemão se irritou com o vazamento do projeto pela imprensa brasileira, na semana
passada. Outra, mais sofisticada, é que o projeto ainda não passou por todas as instâncias técnicas necessárias antes de ser formalizado pública e politicamente.
Por essa segunda versão, o governo alemão achou que seria
pouco prudente que FHC e
Schröder anunciassem o projeto
antes da aprovação formal dos 15
integrantes do comitê executivo
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (ou MDL). O risco
seria de que pelo menos um deles
questionasse os termos, criando
constrangimento para os dois
chefes de Estado.
O MDL é um dispositivo previsto no Protocolo de Kyoto para
permitir parcerias entre países ricos e pobres no corte de emissões
de CO2, o principal gás do aquecimento global. O comitê para estudar suas regras foi criado em 2001.
As parcerias, como no caso do
carro a álcool, prevêem que os
países ricos financiem projetos
nos países em desenvolvimento e,
em contrapartida, tenham direito
a uma espécie de desconto em
suas cotas de redução dos níveis
de carbono (ou seja, CO2).
O acordo dos carros a álcool é
considerado pelo governo como
altamente favorável ao Brasil, sob
o ponto de vista econômico, político e de geração de empregos. Teria, por exemplo, o aspecto simbólico de retomada do Proálcool,
um dos programas de maior apelo entre ambientalistas de todo o
mundo, porque substitui o petróleo, uma fonte de energia não-renovável (ao contrário do álcool).
Até ontem, no início da noite no
Brasil (são cinco horas a menos
que em Johannesburgo), o governo brasileiro tentava negociar que
a data e o local já anunciados para
a assinatura da parceria fossem
mantidos. O governo alemão não
estava cedendo.
Quem coordena a negociação
técnica do lado brasileiro é Luiz
Gylvan Meira Filho, do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT). O
Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, porém, participam ativamente das conversas.
Até ontem, caminhavam bem
as negociações finais para um
acordo na área de energia com o
Reino Unido e para manejo de
florestas com a Finlândia. Ambos
deverão ser assinados ainda durante a Rio +10. Também está
confirmada assinatura de convênio com o Banco Mundial para financiamento de US$ 81 milhões em projetos na Amazônia, US$ 67 milhões a fundo perdido (não
precisam ser pagos).
Posição do ministério
O ministro do Desenvolvimento, Sergio Amaral, disse ontem
que o acordo entre a Alemanha e
o Brasil será assinado em Johannesburgo. Segundo ele, os dois
países vão assinar um documento
para confirmar a intenção de cooperar utilizando as regras do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, previsto no protocolo de Kyoto. No entanto, segundo
Amaral, os detalhes do acordo não serão divulgados porque ainda estão em discussão.
Além disso, para começar a valer, o acordo depende da ratificação do Protocolo de Kyoto e da aprovação do comitê executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, disse o ministro.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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