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BIOLOGIA
Organismo amebóide consegue encontrar o caminho mais curto até fontes de alimento num labirinto de gelatina
"QI de ameba" deixa de ser uma ofensa
RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Inteligência de ameba" perde a
condição de xingamento ofensivo
graças a experimentos feitos por
pesquisadores do Japão e da Hungria. Um organismo amebóide
conseguiu se orientar em um labirinto, sempre encontrando o caminho mais curto até a comida.
"Esse notável processo de computação celular significa que materiais celulares podem mostrar
uma inteligência primitiva", escrevem os pesquisadores Toshiyuki Nakagaki, Hiroyasu Yamada
e Ágota Tóth na edição de hoje da
revista britânica "Nature".
Que tipo de inteligência é essa?
"Eu acredito que nós podemos
ver uma alta capacidade de resolver um problema difícil nesse organismo. Esse processo é uma
forma de computação celular, e a
habilidade computacional é a base dos comportamentos inteligentes", disse à Folha o principal
autor do estudo, Toshiyuki Nakagaki, do Sistema de Pesquisa de
Fronteira Riken, Japão. "Mas não
acredito que esse organismo tenha uma mente como nós."
O organismo amebóide (Physarum polycephalum) parece a "bolha assassina" da ficção científica.
É uma espécie de bolor que se arrasta pelo solo devorando bactérias e fungos, deixando atrás um
emaranhado de tubos finíssimos.
O labirinto foi feito com uma
película de plástico colocada sobre o meio gelatinoso onde vive o
Physarum. Quando os pesquisadores colocaram dois blocos de
comida em dois pontos do labirinto, o organismo foi ajustando
seu "corpo" até encontrar o caminho mais curto entre os pontos
(veja quadro acima). Quando havia dois caminhos alternativos,
mas com ligeira diferença de
comprimento, o Physarum optava por qualquer um deles.
Como e por que ele escolhia o
melhor caminho? Os pesquisadores notaram que, ao colocar comida, há aumento da frequência de
contração do Physarum e que os
tubos são reforçados ou decompostos de acordo com sua posição
em relação a essas contrações.
"Isso depende de um mecanismo de reações bioquímicas. É
bem mais difícil responder o "porquê" do que responder o "como".
Ritmos e suas modulações, nesse
organismo, podem ter um papel
chave no processamento de informação", afirma Nakagaki.
Os cientistas ainda não conhecem o mecanismo bioquímico,
mas concluíram que ondas de
contração estão associadas à modulação da estrutura dos tubos.
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