São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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BIOLOGIA
Organismo amebóide consegue encontrar o caminho mais curto até fontes de alimento num labirinto de gelatina
"QI de ameba" deixa de ser uma ofensa

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Inteligência de ameba" perde a condição de xingamento ofensivo graças a experimentos feitos por pesquisadores do Japão e da Hungria. Um organismo amebóide conseguiu se orientar em um labirinto, sempre encontrando o caminho mais curto até a comida.
"Esse notável processo de computação celular significa que materiais celulares podem mostrar uma inteligência primitiva", escrevem os pesquisadores Toshiyuki Nakagaki, Hiroyasu Yamada e Ágota Tóth na edição de hoje da revista britânica "Nature".
Que tipo de inteligência é essa? "Eu acredito que nós podemos ver uma alta capacidade de resolver um problema difícil nesse organismo. Esse processo é uma forma de computação celular, e a habilidade computacional é a base dos comportamentos inteligentes", disse à Folha o principal autor do estudo, Toshiyuki Nakagaki, do Sistema de Pesquisa de Fronteira Riken, Japão. "Mas não acredito que esse organismo tenha uma mente como nós."
O organismo amebóide (Physarum polycephalum) parece a "bolha assassina" da ficção científica. É uma espécie de bolor que se arrasta pelo solo devorando bactérias e fungos, deixando atrás um emaranhado de tubos finíssimos.
O labirinto foi feito com uma película de plástico colocada sobre o meio gelatinoso onde vive o Physarum. Quando os pesquisadores colocaram dois blocos de comida em dois pontos do labirinto, o organismo foi ajustando seu "corpo" até encontrar o caminho mais curto entre os pontos (veja quadro acima). Quando havia dois caminhos alternativos, mas com ligeira diferença de comprimento, o Physarum optava por qualquer um deles.
Como e por que ele escolhia o melhor caminho? Os pesquisadores notaram que, ao colocar comida, há aumento da frequência de contração do Physarum e que os tubos são reforçados ou decompostos de acordo com sua posição em relação a essas contrações.
"Isso depende de um mecanismo de reações bioquímicas. É bem mais difícil responder o "porquê" do que responder o "como". Ritmos e suas modulações, nesse organismo, podem ter um papel chave no processamento de informação", afirma Nakagaki.
Os cientistas ainda não conhecem o mecanismo bioquímico, mas concluíram que ondas de contração estão associadas à modulação da estrutura dos tubos.


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