São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PALEONTOLOGIA

Ovos contêm os crânios mais preservados

Argentinos encontram primeiros embriões intactos de titanossauro

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Paleontólogos argentinos acharam um verdadeiro tesouro: seis ovos intactos do grupo dos titanossauros, dinossauros herbívoros que viveram na Patagônia há 80 milhões de anos. De acordo com estudo na revista "Science" (www.sciencemag.org) de hoje, os embriões são os primeiros com o crânio bem preservado e vão ajudar a entender a história evolutiva desses animais.
Não é a primeira vez que o sítio de Auca Mahuevo, no norte da Patagônia, revela detalhes sobre a vida dos dinossauros sul-americanos. Quando Luis Chiappe e Rodolfo Coria escavaram os arredores do vulcão extinto Auca Mahuida em 1997, a surpresa foi tamanha que o lugar mudou de nome. "Por brincadeira, nós chamamos o sítio de Auca Mahuevo [trocadilho com "más huevos", "mais ovos" em espanhol"", conta Chiappe, do Museu de História Natural de Los Angeles (EUA).
Não era para menos: de acordo com Chiappe, centenas de milhares de ovos, dispostos em milhares de ninhos, se espalhavam por uma área de vários quilômetros quadrados. Tudo indica que Auca Mahuevo era para os dinossauros o que as praias do Nordeste brasileiro são para as tartarugas marinhas: um refúgio anual de desova e procriação.
Os ovos estudados por Chiappe, que trabalhou com Leonardo Salgado e Rodolfo Coria, lançam nova luz sobre os titanossauros. Eles compõem o último grupo de grandes dinossauros herbívoros a dominar a América do Sul, antes da extinção que acabou com esses animais há 65 milhões de anos.
As criaturas tinham pescoços longos, crânios pequenos, dentes cilíndricos e lisos e, às vezes, placas ósseas espalhadas pelo corpo. O mais proeminente da família era o argentinossauro, maior animal terrestre de todos os tempos, com 36 metros de comprimento e mais de 80 toneladas.
Chiappe avalia o tamanho dos embriões nos ovos em 15 metros quando adultos -nada desprezível, quando se leva em conta que os bichos saíam dos ovos com apenas 30 centímetros.
Em razão da cabeça e do cérebro diminutos, os titanossauros foram considerados por muito tempo a marca registrada da burrice dos dinossauros. Não era bem assim, diz Chiappe.
"Mapeando os ninhos, é possível ver evidências de organização social muito complexa, sinal de inteligência", afirma. Reinaldo Bertini, paleontólogo da Unesp de Rio Claro (SP), embora advirta que é complicado superestimar a inteligência dos animais, diz que eles realmente levavam vida gregária e organizada: "Andavam em manadas, e as fêmeas cuidavam muito bem dos filhotes".
Para os paleontólogos, os embriões apresentam uma chance única, já que poucos crânios inteiros de titanossauros foram achados até hoje. No caso de embriões, os de Auca Mahuevo são os primeiros e estão num estágio muito próximo do nascimento. "Isso pode ajudar a entender o processo embrionário dos titanossauros", avalia Bertini.
Chiappe se diz intrigado com as diferenças anatômicas entre embriões e adultos. "Duas características desse grupo são as narinas lá no alto, perto dos olhos, e a rotação da caixa craniana para baixo. Os embriões só têm a segunda dessas características, o que pode significar que ela evoluiu antes no grupo", explica. Agora, a meta do paleontólogo é determinar com segurança a evolução anatômica dos gigantes.



Texto Anterior: Ambiente: FHC afirma que o Código Florestal será mantido na sua forma atual
Próximo Texto: Panorâmica - Fisiologia: Viagra ajuda a respirar em regiões de grande altitude
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.