São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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ESPAÇO

Britânica Virgin Galactic, que fechou acordo para construção de cinco naves, quer cobrar R$ 600 mil por bilhete

Linha espacial civil deve voar em 2007, afirma empresário

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A fronteira do espaço acaba de ser aberta ao turismo. Sir Richard Branson, o magnata britânico fundador e proprietário da Virgin, acaba de anunciar a criação, em parceria com uma empresa americana, da primeira companhia de transporte espacial civil.
A "linha espacial", batizada Virgin Galactic, deve começar a operar a partir de 2007, expandindo as atividades do famoso grupo, criado originalmente como uma gravadora e depois convertido em uma multicompanhia com atuação em transporte aéreo e ferroviário, entretenimento, comunicações e telefonia móvel.
Ela deve ser a primeira a oferecer vôos espaciais comerciais para turistas. Apesar do conceito futurista, a tecnologia envolvida não é ficção científica: ela já foi testada e vem da mente do pioneiro aeroespacial Burt Rutan, engenheiro que projetou o primeiro avião a dar a volta no mundo sem reabastecer e, mais recentemente, a primeira nave espacial privada a efetivamente deixar a atmosfera terrestre -a SpaceShipOne.
Rutan, então financiado com US$ 20 milhões pelo milionário americano Paul Allen (co-fundador da Microsoft), ainda está colhendo os louros pela criação do veículo, que fez seu primeiro vôo espacial em 21 de junho e tem outros marcados para amanhã e 4 de outubro.
No novo empreendimento, Branson irá repassar verbas que podem chegar a até 14 milhões (cerca de R$ 72 milhões), nos próximos 15 anos, para que o engenheiro desenvolva uma versão maior da nave, com capacidade para cinco passageiros (a SpaceShipOne só carrega dois tripulantes e o piloto), e forneça algumas para a Virgin Galactic.

"Milhares de astronautas"
O valor final do investimento dependerá da quantidade de naves que serão efetivamente construídas e entregues à "linha espacial". O modelo já está sendo genericamente chamado de VSS (Virgin SpaceShip), mas só começará a ser projetado em outubro.
A companhia deve iniciar seus lançamentos a partir do aeroporto de Mojave, na Califórnia -a atual base de operações de Rutan- , mas pretende depois se estabelecer em outros pontos de lançamento ao redor do mundo.
"Esperamos criar milhares de astronautas durante os próximos anos e reavivar o sonho deles de ver a beleza majestosa de nosso planeta de cima, as estrelas em toda a sua glória e a incrível sensação de ausência de peso", disse Branson, em entrevista coletiva realizada ontem, em Londres. "O desenvolvimento também permitirá que cada país no mundo tenha seus próprios astronautas em vez de uns poucos privilegiados."
A estimativa é lançar até 3.000 pessoas ao espaço nos próximos cinco anos. A primeira das novas naves, batizada como VSS Enterprise (numa referência ao seriado de TV "Jornada nas Estrelas"), começará a ser construída pela equipe de Rutan no ano que vem.
O custo da passagem para cada passageiro, num vôo que teria duração total de três horas, altitude máxima de 130 km e sensação de ausência de peso por cerca de três minutos, está orçado em 115 mil (cerca de R$ 600 mil).
Quanto aos lucros obtidos, a Virgin pretende reinvesti-los em tecnologias de vôo espacial, não só para baratear ainda mais o custo por passageiro no futuro, mas para tornar as viagens mais longas, até atingir a capacidade de enviar seres humanos até a órbita terrestre a um custo aceitável.
Hoje, um vôo até a órbita terrestre numa nave russa Soyuz custa cerca de US$ 20 milhões por pessoa. Apenas dois turistas espaciais tiveram cacife para bancar essa opção de férias e visitar a Estação Espacial Internacional, o americano Dennis Tito e o sul-africano Mark Shuttleworth.

Hotel
Branson imagina para o futuro a construção de um hotel espacial para hospedar seus ricos passageiros, quando a tecnologia de transporte orbital atingir níveis de custo razoáveis.
"Eu apoiei o desenvolvimento da SpaceShipOne porque vi isso como uma grande oportunidade para demonstrar que exploração espacial poderia um dia atingir a esfera dos cidadãos comuns", declarou Paul Allen, em nota divulgada a imprensa. "O acordo com a Virgin representa o próximo passo na evolução do conceito da SpaceShipOne, e será provavelmente o primeiro de vários acordos que utilizarão a tecnologia desenvolvida durante sua criação."


Com agências internacionais

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