São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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Descoberta reafirma teoria da evolução

MARTA MIRAZÓN LAHR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última década, sete ou oito novas espécies de hominídeo foram descritas, o que levou à reforma da árvore genealógica da humanidade e ao reconhecimento da variabilidade de nichos ecológicos ocupados por hominídeos.
Hoje, são reconhecidas até 20 espécies de hominídeos; muitas existiram concomitantemente, levando ao abandono da noção de uma seqüência evolutiva linear em direção ao homem moderno. Também se aceita que o H. sapiens evoluiu na África recentemente (nos últimos 250 mil anos), de onde se dispersou para o mundo, transformando-se na única espécie de hominídeo existente.
Os fósseis descobertos na ilha de Flores representam mais do que uma adição a esse registro fantástico da evolução da nossa família. As criaturas, interpretadas como descendentes do Homo erectus da ilha de Java, que, isoladas na pequena ilha, viraram pigméias, demonstram que os hominídeos obedeceram às mesmas regras evolutivas que os outros animais.
Os fósseis, que receberam o nome de Homo floresiensis, levantam inúmeras questões: qual era o seu padrão de crescimento? Por que o processo alométrico que o levou a reduzir o tamanho em 30% provocou uma redução do cérebro de mais de 50%?
Como pensava uma criatura com cérebro menor do que "Lucy" -o célebre Australopithecus afarensis de 3,5 milhões de anos- mas que sabia manufaturar ferramentas e caçar elefantes (pigmeus estes também)?
Podemos ainda nos perguntar se estas criaturas se encontraram frente a frente com caçadores humanos e se estes tiveram um papel na sua extinção. O Homo floresiensis é, sem dúvida, uma das descobertas paleoantropológicas mais fantásticas.


Marta Mirazón Lahr é diretora do Laboratório Duckworth no Centro Leverhulme de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de Cambridge, Reino Unido


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