São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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As musas de Hawking

Markus Schreiber - 21.jul.1999/Associated Press
Stephen Hawking, durante participação em conferência sobre teoria de cordas na Universidade de Potsdam, Alemanha, em 1999



Em seu novo livro, o físico britânico da Universidade de Cambridge reedita grandes obras de Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein, enumerando os gigantes que decifraram a gravitação


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Stephen Hawking pode. Ele é o único cientista da história que teve a chance de disputar -e vencer- uma partida de pôquer com Albert Einstein e Isaac Newton. Como? Prerrogativa de físico popstar: a disputa ocorreu num episódio da série de TV "Jornada nas Estrelas", no qual o físico britânico fez uma ponta em 1993.
Agora, mais de uma década depois, Hawking volta a reunir os velhos colegas, em forma de livro. Também traz à mesa Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Johannes Kepler e se apequena diante dos gigantes que mudaram a concepção do mundo, criaram a física moderna e decifraram a gravitação.
Hawking dá à obra o nome "On the Shoulders of Giants", parafraseando Newton, que disse ter apenas enxergado mais longe "porque estava sobre os ombros de gigantes", pagando assim um tributo a seus predecessores. No Brasil, a versão publicada pela Editora Campus (tel.: 0800-265340) traz o título "Os Gênios da Ciência: Sobre os Ombros dos Gigantes" (R$ 175, 1.040 págs., tradução de Marco Moriconi, Heloisa Rocha, Lis Moriconi e Sergio Dutra).
É uma referência modesta, originária de um cientista nada modesto e agora apropriada por outro que também não traz a modéstia como sua característica mais marcante. Aliás, "imodesta" é a melhor forma de definir a coletânea.
Com mais de mil páginas, o livro é uma grande compilação de trabalhos de Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein, com introduções e notas biográficas redigidas pelo próprio Hawking, 62, que ficou famoso com seus estudos de buracos negros e livros como "Uma Breve História do Tempo".
O atual professor lucasiano de matemática da Universidade de Cambridge (cadeira outrora ocupada por Newton) reforça a noção de que não basta estar sobre ombros de gigantes. "Às vezes, como no caso de Copérnico e Einstein, temos de dar o salto intelectual para um novo cenário. Talvez Newton devesse ter dito: "Usei ombros de gigantes como trampolins"."
Ele também critica o excesso de modéstia da humanidade como um todo, após a revolução copernicana, instigando polêmica. "Os cientistas modernos foram mais copernicanos que o próprio Copérnico, ao buscarem novos relatos do Universo, nos quais o homem (no sentido anterior à obsessão pelo politicamente correto) não desempenhava nenhum papel. Muita gente (inclusive eu) acha que o surgimento desse Universo tão complexo, estruturado com base em leis simples, exige o apelo de algo chamado "princípio antrópico", que nos remete de volta à posição central, a qual, por excesso de modéstia, não reivindicamos, desde que fomos destronados por Copérnico."
O controverso princípio antrópico é a idéia de que, de uma miríade de possibilidades cosmológicas, o Universo caminhou para favorecer a existência de criaturas inteligentes que reflitam sobre o cosmos e sobre elas mesmas. "Se a teoria definitiva previsse só um estado para o Universo e para seu conteúdo, seria uma enorme coincidência que essa situação única se enquadrasse no pequeno subconjunto que cria condições para a vida."
Por mais imodestas que sejam suas teses, o físico britânico aproveita a deixa para dar voz aos outros gigantes. Embora seja essencialmente um livro de referência, mais útil a historiadores da ciência do que a curiosos, trata-se de boa chance de revisitar, numa tacada só, obras clássicas da física, três das quais originalmente escritas em latim. Abaixo, trechos do livro.


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