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NEUROLOGIA
Cérebro de jogadores processa mais rapidamente maior número de estímulos à visão, diz pesquisa americana
Jogar videogame amplia habilidade visual
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Possível cena do cotidiano no
fim do século 21: o menino quer
sair para jogar bola, e a vovó,
preocupada, tenta dissuadi-lo.
"Lá você pode se machucar. E,
lembre-se, filho: videogame faz
bem para a vista." Segundo uma
dupla de cientistas, isso pode não
estar muito longe da verdade.
Eles sugerem que jogos eletrônicos possam intensificar o grau de
atenção visual -idéia que, intuitivamente, não parece surpreendente, mas que agora saiu do âmbito das impressões e virou ciência oficial, graças a experimentos
feitos nos EUA.
Os resultados dos testes, publicados hoje na revista científica
"Nature" (www.nature.com), sugerem que um jogador de videogames de ação tem a habilidade
de perceber mais objetos em seu
campo visual e de fazê-lo mais depressa do que um não-jogador.
"Jogadores podem processar
informação visual mais rapidamente e podem acompanhar 30%
mais objetos do que não-jogadores", diz Daphne Bavelier, do Departamento de Ciências Cognitivas e do Cérebro da Universidade
de Rochester, nos EUA.
Ela fez os testes em conjunto
com um aluno seu, Shawn Green.
Embora não seja uma jogadora
ávida, o mesmo não se pode dizer
de Green. "Ele é. E foi assim que
tudo começou", conta.
Depois de se surpreenderem
com a eficiência com que Green
respondia aos testes visuais que
eles estavam elaborando, a dupla
decidiu verificar se a prática do videogame era a causa. Em testes
que envolviam a tarefa de apontar
em que ponto de uma tela surgia
um objeto que só era visível por
menos de um centésimo de segundo, jogadores se saíram melhor que não-jogadores. Os mesmos resultados surgiram quando
a tarefa era dizer quantos objetos
apareciam ao mesmo tempo.
Até aí, poderia não haver uma
relação direta de causa e efeito
-os jogadores podiam simplesmente ter uma habilidade inata e
até por isso ser aficcionados por
videogames.
A prova dos noves foi um experimento que colocava não-jogadores para jogar. Seus resultados
iniciais nos testes eram decepcionantes, mas, após algumas horas
de jogo, sua habilidade visual já
começava a dar francos sinais de
melhora. A dupla diz que dez horas acumuladas (não-ininterruptas) já trazem progresso.
Nem por isso os dois têm por
bandeira a defesa dos violentos
jogos eletrônicos de ação. "Certamente não queremos dizer que as
crianças deviam jogar videogame
em vez de fazer a lição de casa",
diz Bavelier. "Além disso, o tipo
de atenção visual melhorada que
notamos é útil na vida real, como
ao dirigir, mas pode ser contrabalançado pela agressividade que alguns jogos podem promover. Então, não podemos dizer com certeza que jogar videogames faz você dirigir com mais segurança."
Apesar disso, a dupla sugere
que videogames especialmente
projetados possam no futuro ajudar como terapias para doenças
que envolvem déficit de atenção a
estímulos visuais, como em pacientes vitimados por derrame.
Diversos problemas podem
emergir da prática de videogames. Além da violência (que pode
ou não induzir comportamento
agressivo -alguns estudos sugerem essa tendência), esforço repetitivo pode danificar ligamentos.
Há ainda um componente viciante perigoso. Em outubro do ano
passado, dois jovens coreanos
morreram de tanto jogar videogame (por exaustão, após 86 horas e
32 horas de jogo ininterrupto).
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