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Governos superestimam área de
manejo florestal, afirma relatório
Para diretor de organização, madeira não consegue competir com soja e boi
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O tamanho das áreas de exploração sustentável em florestas tropicais está sendo superestimado por governos e proprietários de terra, revela um
levantamento global. Três
quartos dos planos de manejo
sustentável não conseguem
sair do papel, segundo um relatório divulgado na semana passada pela ITTO (Organização
Internacional da Madeira Tropical), ligada à ONU.
Cerca de 27% dos 353 milhões de hectares de mata tropical fora de reservas pertence
a programas de exploração legalizados. A ITTO estima, porém, que só 7% da área seja ao
mesmo tempo produtiva e sustentável -produzindo madeira
certificada, por exemplo.
"Empresas podem acatar os
requisitos para o manejo sustentável ao mesmo tempo em
que continuam empregando
práticas destrutivas de extração de madeira", diz Steve
Johnson, um dos editores do
relatório. "É preciso uma vigilância mais dedicada."
Nem todos os números do
documento são pessimistas. A
área de mata explorada de maneira não-predatória cresceu
de 1 milhão para 36 milhões de
hectares desde 1988. Só que esse aumento não ajudou muito
na preservação. Cerca 95% das
florestas tropicais do planeta
ainda estão ameaçadas.
Baixa lucratividade
A grande dificuldade de contar com a exploração sustentável como política de preservação, ao que parece, se deve à
baixa margem de lucro da atividade comparada a outras formas de uso da terra. "O manejo
florestal não tem a menor condição de competir com soja e
gado [que avançam sobre a
Amazônia] ou com espécies de
árvore de crescimento rápido,
como está acontecendo no Sudeste Asiático", diz o brasileiro
Manoel Sobral Filho, diretor-executivo da ITTO.
Para que um terreno florestado seja mais rentável com as
árvores em pé, será necessário
algo além do lucro da madeira.
A remuneração extra poderia
vir de créditos de carbono concedidos por desmatamento evitado, um mecanismo em discussão no âmbito da Convenção do Clima da ONU. (O desmate libera gás carbônico, que
agrava o efeito estufa.)
Segundo uma estimativa do
Imazon (Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia),
uma remuneração de US$ 4 para cada tonelada de carbono
mantida em árvores vivas pode
tornar a floresta mais rentável
do que a pastagem, se somada
ao lucro da madeira certificada
por um período de 30 anos.
Paulo Barreto, pesquisador
do Imazon, diz não acreditar
que o uso sustentável das florestas esteja condenado a não
ser competitivo. "Mas é preciso
remunerar a floresta pelos outros valores que ela tem."
Para a ITTO, porém, a floresta não tem pernas para dar um
salto tão grande no mercado.
"O dono da floresta, seja ele o
governo ou um indivíduo, precisa se contentar em ter um lucro menor", diz Sobral.
A ITTO aponta que a dificuldade de preservar florestas, especialmente no caso do Brasil,
passa pela falta de infra-estrutura de fiscalização. Além disso, há o vácuo deixado por um
grande número de áreas públicas que poderiam ser licenciadas para exploração, e que ficam à mercê da grilagem.
Atualmente com 1,4 milhão
de hectares reservado à exploração florestal, o Brasil fica
atrás de Malásia (4,8 milhões),
Bolívia (2,2 milhões) e Gabão
(1,5 milhão).
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