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Ressalvas tornam a lei inaplicável, dizem cientistas
Após a sessão de ontem do Supremo, opositor do uso de embriões em pesquisas disse que o placar é pela liberação
Exigências de Menezes Direito para aprovação
incluem cláusula que veda destruição de embrião, mas
não proíbe as pesquisas
LAURA CAPRIGLIONE
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o voto de Carlos Alberto
Menezes Direito for seguido e a
Lei de Biossegurança for declarada constitucional com ressalvas, a pesquisa acabará na prática impedida. A opinião é de
juristas e cientistas que foram
ouvidos pela Folha. No entanto, isso não deve acontecer.
"Pelo placar de hoje, a questão está definida. A linha geral
é pela liberação das pesquisas",
afirmou após a sessão no STF
Jaime Lopes, coordenador do
movimento Brasil Sem Aborto
que se opõe ao uso de embriões
em pesquisa. "Mas nossa luta
continua", disse.
O outro lado da batalha se
mostrou otimista. "O placar é
favorável a nós", disse Gabriela
Costa, representante do Movitae -movimento em defesa do
uso dos embriões nas pesquisas- em Brasília. Ela afirma,
no entanto, que as ressalvas inviabilizam a pesquisa.
É também o que pensa a geneticista Mayana Zatz, da USP,
principalmente quanto à ressalva que limita o número de
células que se pode utilizar de
um embrião. Segundo ela, só há
notícia de um grupo no mundo
que conseguiu derivar linhagens de célula-tronco a partir
desse número reduzido de células. Zatz, porém, disse ter saído com expectativa positiva.
O neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro),
concorda que as ressalvas, na
prática, impedem a pesquisa.
"Se um casal gera quatro embriões, por exemplo, [para fertilização in vitro] e o primeiro é
implantado com sucesso, os
demais dificilmente serão usados, apesar de serem viáveis",
diz Rehen. Essa situação, pelos
votos proferidos ontem na
Corte, seria ilegal, caso a ressalva da inviabilidade dos embriões permaneça válida.
Sobre a necessidade de mais
um órgão federal para aprovar
as pesquisas com células-tronco embrionárias - hoje os comitês de ética em pesquisa decidem sobre isso-, Rehen declarou: "Respeito muito a posição dos ministros, mas um órgão a mais vai apenas aumentar a burocracia".
Sobre o fato de a legislação
permitir o uso de células-tronco embrionárias sem a destruição do embrião, Rehen afirma
que isso é tecnicamente complicado. "Apenas um único grupo conseguiu fazer isso até agora [nos EUA]. Não podemos definir a política de pesquisa
científica de um país por um
único caso". Para o pesquisador, é difícil dizer se isso será
uma prática comum em breve.
Impedimento
"Seria mais honesto e mais
correto se esses votos fossem
pela inconstitucionalidade",
disse José Afonso da Silva,
constitucionalista e professor
titular da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo.
Segundo ele, os votos que consideraram a Adin (Ação Direta
de Inconstitucionalidade)
"parcialmente procedente",
impondo novas restrições ao
uso em pesquisa das células-tronco embrionárias, acabam
impedindo a aplicação da lei.
"A Lei de Biossegurança
aprovada já é muito restritiva.
Ampliar ainda mais o leque de
restrições é o mesmo que impedir a utilização das células-tronco embrionárias", avaliou.
André Ramos Tavares, professor de Direito constitucional
da PUC-SP e diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais, disse que os votos
pela parcial procedência da
Adin podem ser entendidos como uma tentativa de salvar a
lei. "Em vez de considerá-la inconstitucional e, portanto, condená-la em sua totalidade, esses ministros preferiram reduzir ou restringir o seu campo de
ação, extraindo dela os pontos
que consideram contrários à
Constituição. A lei continuará
em vigor, mas terá uma incidência menor." Segundo Tavares, votos pela procedência parcial manifestam uma "deferência ao Parlamento".
Com a Sucursal de Brasília
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