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BIOTECNOLOGIA
Bactéria usada para fazer iogurte é alterada geneticamente e ataca microrganismo que estraga os dentes
Europeus inventam micróbio anticáries
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bactérias do mesmo gênero utilizado para fabricar queijo, leite
fermentado ou iogurte foram empregadas com sucesso por um
grupo de cientistas europeus para
prevenir a cárie dentária.
Os chamados lactobacilos foram modificados geneticamente
para produzir um anticorpo capaz de neutralizar a principal bactéria causadora das cáries, a espécie Streptococcus mutans.
Os experimentos com a bactéria
benéfica Lactobacillus zeae foram
feitos em ratos, mas ela é considerada segura para uso em seres humanos. Com isso se abre a possibilidade de, no futuro próximo,
ser desenvolvido um novo tratamento preventivo de cáries.
O estudo foi feito por uma equipe de treze pesquisadores de instituições da Suécia, Holanda e Reino Unido, coordenados pelo sueco Lennart Hammarström, do
Instituto Karolinska. O artigo
descrevendo o processo de obtenção da superbactéria e o seu uso
está sendo publicado na edição de
julho da revista científica americana "Nature Biotechnology"
(biotech.nature.com).
Os lactobacilos constituem um
dos gêneros de bactérias utilizados industrialmente para obter a
fermentação láctica, processo necessário para a produção de laticínios como queijo e iogurte. As
bactérias agem convertendo açúcares em ácido láctico.
Além disso, as bactérias lácticas
fazem parte da própria flora microbiana do organismo humano.
No intestino, essa flora ajuda na
defesa contra contaminações por
bactérias causadoras de doenças.
Esse papel na defesa imunológica fez com que pesquisadores tenham começado a investigar a
possibilidade de usar bactérias
lácticas como "vacinas vivas", capazes de produzir proteínas com
a habilidade de despertar uma
resposta do organismo, ou então
agir diretamente contra os micróbios invasores.
Ligado no inimigo
A equipe de Hammarström
modificou a Lactobacillus zeae
para que a bactéria passasse a produzir uma proteína e também
mantê-la na sua superfície. Essa
proteína é capaz de agir como um
anticorpo, ou seja, ela reconhece
uma outra proteína na superfície
da bactéria da cárie e gruda nela,
destruindo o micróbio invasor.
A capacidade do lactobacilo
modificado de se ligar ao inimigo
foi testada por meio de microbolinhas de plástico que continham
na superfície amostras da proteína-alvo. Imagens em microscópio
mostraram essa ligação.
O passo seguinte foi testar o
efeito em um ser vivo, pois, como
afirmaram os autores do estudo,
"para serem terapeuticamente
eficientes, lactobacilos produtores de anticorpos devem persistir
na cavidade bucal por um período de tempo prolongado".
A bactéria geneticamente "engenheirada" passou também nesse teste, que envolveu 19 ratos.
Três grupos de ratos de 21 dias
de idade foram testados. Com o
emprego de cotonetes, um grupo
recebeu apenas água estéril na boca. Outro recebeu o lactobacilo
normal e um terceiro foi tratado
com o microrganismo modificado pelos cientistas.
Depois de alguns dias, todos os
grupos foram infectados com a
bactéria da cárie. Os que tinham
recebido lactobacilos passaram a
recebê-los também na água.
A cada três dias, a presença na
boca das duas bactérias - Lactobacillus zeae e Streptococcus mutans - era verificada. Aos 42 dias
de idade, os ratos foram mortos e
seus dentes examinados em busca de cáries.
Os ratos que receberam as superbactérias tinham um número
muito menor de bactérias da cárie, além de terem tido bem menos lesões nos dentes.
Por exemplo, ratos que não receberam nenhum lactobacilo tinham, na semana final do experimento, em média, 2.900 colônias
de Streptococcus mutans, enquanto os animais tratados tiveram apenas 75 colônias.
Terapia
No final do experimento, dos
seis ratos sem lactobacilos, quatro
tiveram cáries (67%). O mesmo
índice foi notado nos seis ratos
que receberam os lactobacilos comuns. Já entre os sete ratos tratados com as superbactérias, apenas um teve cáries.
"A longa persistência dos lactobacilos transformados na cavidade oral e sua eficácia terapêutica sugerem que esse pode ser um método viável para terapia futura, seja profilaticamente ou terapeuticamente", dizem os cientistas.
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