São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Monsanto cria "plantas de plástico"


MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

A Monsanto, empresa norte-americana que tem causado polêmica com suas sementes modificadas geneticamente, acaba de ter um estudo publicado em que pode ter dado o primeiro passo para a criação de vegetais que produzam plástico biodegradável.
A pesquisa, conduzida por Kenneth Gruys, está na edição de outubro da revista britânica "Nature Biotechnology". Nela, os pesquisadores descrevem o processo pelo qual duas espécies de plantas, a canola (Brassica napus) e a Arabidopsis thaliana, foram capazes de sintetizar o novo material.
"O experimento representa um dos mais complexos feitos em engenharia genética já obtidos em plantas", escreveu Yves Poirier, da Universidade de Lausanne, Suíça, na mesma edição da "Nature Biotechnology".
Poirier já havia demonstrado, em 92, que era possível produzir pequenas quantidades de plástico em plantas. No entanto o material final obtido pelo pesquisador, chamado PHB, era quebradiço e pouco maleável.
Agora, o composto sintetizado pelas plantas da Monsanto é o chamado PHBV, um plástico biodegradável com características que o tornam um bom concorrente do plástico comum.
O PHBV já era produzido desde a metade dos anos 80, por meio de fermentação bacteriana. A produção, no entanto, fazia com que o material fosse economicamente inviável: US$ 3 a US$ 5 por kg, enquanto o plástico derivado do petróleo, como o polipropileno, custava menos de US$ 1 por kg.
"Considerando que plantas são capazes de produzir fécula e óleo a menos de 1 US$ por kg, a síntese de plásticos diretamente por vegetais pode ser o meio mais eficiente de produzir esses biopolímeros", continuou Poirier.
O vegetal criado pelo suíço tinha dois genes da bactéria Ralstonia eutropha. O de Gruys, da Monsanto, possui quatro genes bacterianos, que modificam alguns processos metabólicos dos dois vegetais.
Mas o PHBV extraído das folhas e sementes das plantas ainda é pouco, o que indica que novos estudos são necessários para comprovar a eficácia do método.
"Como cientista, assim como a companhia, estamos aqui para ver essa tecnologia dar certo", disse Ken Grice, da Monsanto, à rede britânica BBC, quando questionado se, com a pesquisa, a empresa procurava se afastar dos problemas com a opinião pública.
As sementes da Monsanto desenvolvidas para resistir a herbicidas e a inseticidas, como a Roundup Ready, são o principal alvo de ambientalistas, que afirmam que os produtos podem prejudicar o meio ambiente e trazer danos à população.


Texto Anterior: Ciência: Brasil pode perder projeto em estação espacial
Próximo Texto: Cientistas estudam vacina antigripe
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.