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Copo de leite pode simular buraco negro
Pesquisa brasileira mostra que partículas em suspensão no líquido ajudariam a entender fenômenos cósmicos
Variação de velocidade
do som no fluido seria
analogia de laboratório
para possível mudança
na velocidade da luz
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
Quem quer entender que
diabos acontece num buraco
negro talvez só precise observar um copo de leite.
Ou, pelo menos, um líquido que funcione mais ou menos como o leite, no qual estejam suspensas partículas
de forma aleatória. A ideia
acaba de ser proposta por
cientistas brasileiros na
"Physical Review Letters",
principal revista científica de
física do planeta.
"É uma chance de estudar
parte de um fenômeno tão
exótico quanto um buraco
negro com a ajuda de um líquido que você poderia ter
na sua sala", afirma Gastão
Krein, do Instituto de Física
Teórica da Unesp, que assina
o estudo com dois colegas.
VÁRIAS VARIÁVEIS
Para todos os efeitos, a situação "dentro" de um buraco negro e a que prevalecia
quando ocorreu o Big Bang,
fenômeno violento que teria
dado início a este Universo,
são basicamente as mesmas.
Em ambos os casos, o que
se vê é, grosso modo, matéria
e energia espremidas num
espaço minúsculo, menos do
que microscópico. Num contexto como esse, coisas estranhas começariam a acontecer, a começar pela violação
de uma lei aparentemente
fundamental do Cosmos: o limite da velocidade da luz.
"Numa situação como a de
um buraco negro, espera-se
que a velocidade da luz passe
a variar de forma aleatória,
mas o complicado é demonstrar isso matematicamente",
diz Krein. E se trata de algo
impossível de observar diretamente, já que, conforme o
próprio nome diz, buracos
negros são objetos da qual
nenhuma luz escapa, e o infeliz que tentasse chegar perto deles viraria pasta de partículas elementares, amassado pela imensa gravidade
desses corpos celestes.
É aí que entra o copo de leite. "Ou melhor, provavelmente um fluido um pouco
mais complexo, com micropartículas metálicas, por
exemplo, embora o leite sirva
para ilustrar de que tipo de líquido falamos", conta Krein.
No novo estudo, os físicos
brasileiros mostram que ondas de som se propagando
por essa forma de líquido
-como analogia com as ondas de luz- teriam um comportamento parecido com o
que acontece em um ambiente de buraco negro. A velocidade das ondas de som também varia aleatoriamente, tal como se supõe que ocorra
perto de buracos negros.
"Manipularíamos as características desse líquido
em laboratório e, dessa forma, aprenderíamos algo sobre o que acontece nos buracos negros ou sobre como se deu o Big Bang", diz Krein. O
grupo está em busca de físicos experimentais que topem
o desafio de fazer isso.
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