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Formigas doentes preferem ir morrer na solidão
Para os cientistas, abandono do formigueiro pouco antes da morte acontece para evitar que doenças se propaguem pela colônia
Jürgen Heinze/Universidade de Regensburg
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Formiga utilizada no trabalho; animais sinalizados com arame estavam marcados para morrer
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando sente que vai morrer, a formiga abandona o formigueiro. Passa os últimos momentos na solidão. Quase tão
inesperado quanto o comportamento dos animais é o dos
cientistas alemães responsáveis pela descoberta. O trabalho deles é passar o dia acompanhando um "Big Brother Formiga" e, depois, procurar explicar as atitudes dos animais.
O responsável pelo estudo é
Jürgen Heinze, da Universidade de Regensburg (Alemanha),
uma espécie de Pedro Bial do
formigueiro. No caso das formigas moribundas solitárias, a
explicação que ele propõe parte
da ideia de que quase ninguém,
na natureza, morre de velho.
Grandes grupos de seres idosos são uma anomalia histórica
criada recentemente pelos humanos. Na vida selvagem, morre-se muito antes de envelhecer. Em geral, a razão é alguma
doença, muitas delas transmissíveis. Imagine quantas vezes
você já teria ficado à beira da
morte se, como as formigas,
não tivesse acesso à medicina.
A questão é que sociedades
são o cenário perfeito para que
doenças transmissíveis se espalhem. Como formigas são seres que vivem em complexas
sociedades, afastar-se durante
a doença é uma maneira muito
eficiente de evitar que mais
animais se contaminem no formigueiro. Em termos evolutivos, formigas que tinham esse
comportamento beneficiavam
a sobrevivência de toda a comunidade e, assim, de vários
dos seus próprios genes.
Os cientistas não observaram as formigas doentes sendo
atacadas por outras ou forçadas
a abandonar os formigueiros.
Elas simplesmente iam embora
por "vontade" própria.
O trabalho foi feito com uma
espécie em particular de formiga (a Temnothorax unifasciatus), mas os cientistas acreditam que encontrariam o mesmo altruísmo em outras espécies com a mesma estrutura de
sociedade (leia mais ao lado),
como abelhas ou vespas.
Espiadinha
Os cientistas retiraram os
formigueiros de seus lugares de
origem, no meio do mato, e os
levaram para o laboratório.
Eles foram delicadamente colocados em caixas de plástico,
que facilitavam a observação de
cada um dos animais.
"Foi algo bem fácil de fazer.
Nós simplesmente sentamos
em um microscópio e vemos o
que está acontecendo. As colônias de T. unifasciatus [a espécie de formiga utilizada] são
bastante pequenas, então, de
poucos em poucos minutos, é
possível rastrear o estado comportamental de todas as formigas", diz Heinze.
Foram vários os experimentos, que serão publicados na revista "Current Biology". Em
um, os pesquisadores infectavam algumas formigas com
fungos fatais e marcavam os
animais destinados à morte
com arame. Em outro, observavam formigas que morriam sozinhas, sem interferência humana. Em ambos os casos, os
animais iam, salvo raras exceções, morrer no exílio.
Para Heinze, ainda há muito
a pesquisar sobre as formigas,
como o seu comportamento de
acasalamento e os meios de resolução de conflitos, que podem acabar em lutas fatais.
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