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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Idaho Gem nasceu após 133 tentativas; técnica usada pode ajudar a entender e a tratar câncer de próstata

Surge o primeiro clone equino, um burro

Anthony P. Bolante/Reuters
O burro Idaho Gem, que nasceu no dia 4 e se tornou o primeiro clone de equino e de animal estéril


STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

Um burro recém-nascido chamado Idaho Gem (ou a "Jóia de Idaho") entrou para a história da biologia como o primeiro equino a ser clonado com sucesso. O burro -um cruzamento de jumento com égua- clonado, de quatro semanas de idade, também é único por ser o primeiro clone de um animal híbrido (gerado por animais de espécies diversas) e estéril (incapaz de se reproduzir).
Idaho foi uma das 14 gestações bem-sucedidas após 133 tentativas de transferir embriões clonados para suas mães de aluguel. Seus criadores esperam que duas outras éguas dêem à luz gêmeos do burrinho em junho e agosto.
Os pesquisadores criaram Idaho a partir do irmão de um burro campeão de corridas chamado Taz. Seu nascimento, no último dia 4, está sendo anunciado na edição de hoje da revista científica norte-americana "Science" (www.sciencemag.org).
Em vez de pegar células diretamente de Taz, os pesquisadores coletaram células de pele de um feto de 45 dias concebido naturalmente pelos pais do burro campeão. Essas células, chamadas fibroblastos, foram usadas no processo de clonagem. Os cientistas preferiram usar células jovens a células de um animal adulto.

Barreira do cálcio
Clonar equinos, como o cavalo (Eqqus caballus) e o jumento (Eqqus asinus), era até agora um desafio para os pesquisadores. Mais ainda em se tratando de um animal incapaz de se reproduzir, como o burro -que tem 63 cromossomos, resultado da mistura do cavalo, de 64 cromossomos, e do jumento, de 62 (cromossomos são as estruturas do núcleo da célula em que está reunido todo o DNA do organismo).
Para realizar essa clonagem, os cientistas tiveram de desenvolver uma técnica que, segundo acreditam, poderá vir a auxiliar no tratamento de tumores de próstata em homens. O câncer de próstata é desconhecido entre garanhões equinos, e os pesquisadores crêem que isso tenha algo a ver com os baixos níveis de cálcio nas células dos cavalos.
Gordon Woods, veterinário da Universidade de Idaho (noroeste dos EUA), afirmou que a clonagem bem-sucedida ocorreu depois de terem sido elevados os níveis de cálcio no meio de cultura dos embriões-clones. "Aumentamos o cálcio do meio contendo os embriões e observamos um aumento de sete vezes nas taxas de prenhez de duas semanas", disse Woods, referindo-se a uma forma de medir a eficiência do processo.
O cálcio -ou, mais precisamente, a diferença entre níveis de cálcio dentro e fora das células em humanos e cavalos- poderia explicar as diferenças nas taxas de câncer, segundo Woods. "A taxa de mortalidade de cavalos com câncer metastático [em disseminação pelo organismo] é de 8% para todos os cânceres e de 0% para o de próstata", afirmou.
"Para comparação, a taxa de mortalidade em seres humanos é de aproximadamente 24% para todos os cânceres, entre eles 13% a 14% para o de próstata."
Os cientistas dizem acreditar que remédios que interferiram nos níveis de cálcio poderiam ajudar a conter a disseminação do câncer em seres humanos. Isso seria obtido tornando as células humanas mais parecidas com as de cavalos, que são menos ativas do que seus equivalentes humanos.


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