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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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ASTRONÁUTICA

Canadenses querem decolar impulsionados por foguete com tecnologia da 2ª Guerra e faturar US$ 10 mi

Vôo espacial privado já tem astronautas

Divulgação/Canadian Arrow
Ilustração mostra como seria a decolagem do Canadian Arrow


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O vôo espacial está prestes a deixar de ser exclusividade de agências governamentais russas e americanas. Um grupo de engenheiros canadenses apresentou na semana passada sua equipe de astronautas, que deve em questão de meses começar a realizar vôos suborbitais usando os veículos criados pela empresa.
O Canadian Arrow é uma das mais de 20 equipes de sete países que disputam o Prêmio X -US$ 10 milhões a serem dados ao primeiro time capaz de lançar uma nave para no mínimo três tripulantes até a borda do espaço, a 100 quilômetros de altitude, e então repetir o feito em duas semanas.
A idéia é popularizar os vôos espaciais, tornando-os acessíveis ao cidadão médio. Hoje, para enviar uma carga de 1 kg à órbita terrestre num ônibus espacial, um investidor precisa desembolsar US$ 22 mil. "O ônibus espacial nos ensinou o que não funciona. Ele deveria originalmente ser lançado 50 vezes por ano e custar um centésimo do que custa atualmente", diz Peter Diamandis, o médico e engenheiro aeroespacial que concebeu o Prêmio X, em 1996.
Com a iniciativa, Diamandis espera inaugurar uma nova era na exploração espacial, com agências como a Nasa apenas comprando serviços de empresas privadas.
Embora muitos técnicos sejam céticos quanto às chances de sucesso dos programas particulares de acesso barato (e seguro) ao espaço, a equipe do Canadian Arrow diz estar preparada para faturar o Prêmio X. O grupo aposta em tecnologia consagrada: seu veículo é baseado no foguete V-2, desenvolvido pelo engenheiro alemão Werhner von Braun para os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e depois adaptado nos EUA para os primeiros vôos suborbitais tripulados.
Numa missão suborbital, o veículo sobe, sai da atmosfera, mas não atinge a velocidade necessária para entrar em órbita e acaba retornando ao chão, numa trajetória parabólica. O vôo não dura mais que 15 minutos, da decolagem ao pouso, e o tempo em que os tripulantes experimentam ausência de gravidade fica entre 3 e 5 minutos. Na história da exploração espacial, apenas dois vôos desse tipo foram conduzidos, por Alan Shepard e Gus Grissom, primeiros astronautas dos EUA, no projeto Mercury, nos anos 60.
Os astronautas do Canadian Arrow são internacionais. David Ballinger, Jason Paul Dyer, Marvin Edward Gow e Wayne Wong são canadenses, Larry Clark é americano e Yaroslav Pustovyi é ucraniano -e o único do grupo com treinamento de astronauta.
O grupo foi escolhido a partir de candidatos inscritos voluntariamente. Para Geoff Sheerin, o líder da equipe, seus rapazes lembram muito os sete "eleitos" que participaram do projeto Mercury americano. "Nós usaremos seu conhecimento, sua experiência e seu entusiasmo de todos os modos possíveis nos próximos meses, conforme nos preparamos para capturar o Prêmio X", disse.
A competição, entretanto, ainda não terminou. Segundo Diamandis, pelo menos quatro equipes estão em condições de faturar o prêmio até o ano que vem. A Scaled Composites, dos EUA, apresentou seu veículo suborbital dois meses atrás, e a Starchaser Industries, do Reino Unido, já exibiu uma nave para uma pessoa.
Uma das equipes sul-americana. Organizado pelo argentino Pablo de León, o grupo da nave Gauchito também já realizou testes com trajes espaciais e há poucos dias lançou um modelo de seu foguete. "Lamento informar que o lançamento terminou em fracasso total", diz León. "Mas descobrimos a causa do problema e estamos trabalhando num novo veículo imediatamente."
Muitos dos mais de 20 veículos na competição acabarão virando negócios viáveis que levarão passageiros com astronautas treinados. A empresa americana Space Adventures (www.spaceadventures.com), associada a vários candidatos, já vende bilhetes suborbitais, por US$ 98 mil.
A equipe do Canadian Arrow também já permite a compra de bilhetes (www.astronaut.ca) O preço é um pouco mais em conta: US$ 74 mil. Ainda não é para qualquer um, mas já custa bem menos do que os US$ 20 milhões que o americano Dennis Tito e o sul-africano Mark Shuttleworth pagaram para ir à Estação Espacial Internacional.


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