São Paulo, domingo, 30 de julho de 2000


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AVIAÇÃO
Correntes de ar aumentam o período de espera entre duas aterrissagens
Sistema tira turbulência no pouso

PAUL MARKS
DA "NEW SCIENTIST"

É o pesadelo de todo passageiro de avião: quando a aeronave está prestes a aterrissar, uma súbita turbulência atinge a nave e a joga contra a pista.
A causa é a presença de rastros na forma de vórtices: poderosas correntes giratórias de ar provocadas pelo pouso de um outro avião naquele local, poucos minutos antes. Agora, dois engenheiros da Boeing patentearam um meio de eliminar esses rastros mortais.
Além de tornar o vôo mais seguro, a tecnologia promete reduzir o congestionamento em aeroportos agitados, reduzindo o tempo entre pousos consecutivos.
Os vórtices são gerados pela diferença de pressão entre o ar acima e o abaixo das asas e da cauda de um avião. Os que são formados nas extremidades das asas são os mais fortes, seguidos pelos mais próximos da fuselagem.
A velocidade do vento no centro dessas correntes pode chegar a 350 km/h. O vórtice pode se estender por vários quilômetros atrás da aeronave.
O perigo surge quando um outro avião atinge um desses vórtices poderosos e invisíveis.
"Ele pode ser girado para um lado, o que é especialmente perigoso quando se voa perto do solo", escreveram os engenheiros da Boeing Jeffrey Crouch e Phillippe Spalart no texto da patente de seu sistema, concedida no começo deste mês. "Vários acidentes foram associados a esse tipo de turbulência", afirmam.
Até hoje, a única maneira de evitar o problema era manter os aviões a pelo menos 11 quilômetros de distância um do outro. Isso limita o número de aviões que pode pousar a cada hora. As companhias aéreas reclamam que isso provoca atrasos em horários de maior tráfego.
A Boeing decidiu tentar resolver o problema destruindo os vórtices na fonte. Em testes anteriores com túneis de vento, os engenheiros descobriram que, balançando as superfícies de controle do avião, poderiam produzir uma perturbação de onda na corrente de ar. Essa perturbação desmancha os vórtices.
Durante essas tentativas, os engenheiros balançaram os ailerons (pás móveis que ficam nas asas), mas o procedimento causou muito estresse nas asas, não podendo ser usado rotineiramente.
A inovação surgiu quando Crouch e Spalart descobriram que poderiam fazer a idéia funcionar se combinassem pequenas perturbações feitas pelos ailerons das pontas das asas e pelos spoilers (mecanismo usado para reduzir o movimento).
Isso faz com que os vórtices superiores e inferiores em cada asa interfiram uns com os outros, causando instabilidades que acabam por destruir os dois.

Sensores
Segundo os engenheiros, um sensor a bordo mediria a força dos vórtices que o avião está deixando para trás.
Um computador então utilizaria essa informação para calcular a força e a frequência dos movimentos necessários para os spoilers e ailerons do avião seguinte.
"Vórtices de rastro são um enorme problema", disse Neil Halsey, especialista em aviação do Departamento Meteorológico do Reino Unido. "Unir dois vórtices iria desfazê-los mais depressa. É interessante ver como a Boeing está fazendo isso."
O método da Boeing não é o único a tentar eliminar esses vórtices. A Nasa (agência espacial dos EUA) e a Agência de Pesquisa e Avaliação de Defesa do Reino Unido estão desenvolvendo sistemas a laser para prever essas turbulências antes mesmo do pouso das aeronaves.


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