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CLIMATOLOGIA
Time de cientistas perfura cordilheira sob camada de gelo em busca de sedimentos com 50 milhões de anos
Ártico guarda registro climático da Terra
DA ASSOCIATED PRESS
Um grupo internacional de
cientistas acredita que um registro detalhado do clima da Terra
nos últimos 50 milhões de anos
está guardado numa cadeia de
montanhas sob as águas do Ártico, perto do pólo Norte.
Começando neste mês, eles fazem perfurações nessa cordilheira
pela primeira vez, num esforço
complexo que envolve três navios
e tecnologia de ponta da indústria
petrolífera para extrair sedimentos que poderão contar a história
do clima e ajudar a explicar como
os humanos alteram o planeta.
"É como se fosse um livro", disse Kate Moran, professora de engenharia oceanográfica da Universidade de Rhode Island (EUA)
e co-diretora da Acex (Expedição
de Amostragem do Ártico, na sigla em inglês). "Nós estamos voltando nas páginas do tempo."
Há décadas os cientistas têm
tentado fazer essa viagem, mas
nunca antes conseguiram obter
uma combinação ideal de navios
quebra-gelo e o equipamento de
perfuração necessário.
Na maior parte da expedição,
que deve terminar no meio de setembro, os pesquisadores estarão
empoleirados sobre a cadeia de
Lomonosov, a cerca de 250 quilômetros do pólo. Eles farão três buracos de 500 metros sob o leito
oceânico para extrair os sedimentos necessários para completar o
registro histórico. As amostras serão analisadas na Universidade de
Bremen (Alemanha).
Os cientistas esperam que as
amostras de sedimento possam
ajudá-los a entender melhor dois
fatores particulares do Ártico que,
acredita-se, determinam o clima
da Terra. O primeiro é a descarga
de água doce dos rios da região e
seu efeito nas correntes submarinas que regulam a temperatura
oceânica. O segundo é o gelo marinho, que reflete a luz do Sol e age
como termostato do planeta.
Causas e efeitos
As geleiras, a radiação solar e a
rotação e a órbita da Terra são os
principais fatores a afetar o clima.
Mas teorias sobre qual é o papel
do Ártico até agora têm sido, na
maioria das vezes, "chutes educados", afirmam os líderes da expedição na página da Acex na internet (www.rcom-bremen.de/English/IODP.html). Moran chama
o Ártico de "grande caixa preta".
Os pesquisadores acreditam
que os oceanos eram cerca de
12C mais quentes 50 milhões de
anos atrás, e então começaram a
congelar, o que resultou numa era
glacial que começou há 3 milhões
de anos e dura até hoje. As questões que eles querem responder
são por que o congelamento começou e quão rápido aconteceu.
Hoje, afirmam os cientistas, as
banquisas do Ártico estão diminuindo. A expedição diz que o gelo marinho recuou 5% nas últimas três décadas, uma redução
equivalente aos territórios da
França e da Alemanha somados.
Sem essa massa de gelo, dizem, a
Terra continuará a esquentar na
medida que absorver mais calor,
porque há menos superfície congelada para refletir os raios do Sol.
Moran afirma que os extratos
de sedimentos mostrarão quanto
gelo desapareceu, e quando isso
ocorreu. "Provavelmente veremos uma diminuição contínua no
gelo, mas não sabemos com que
rapidez as mudanças afetarão o
clima", explicou Moran. "Então,
usaremos o registro nos sedimentos para ver quão rápido ou devagar o gelo se formou no Ártico."
Os extratos também podem
mostrar como as correntes marítimas que têm origem no Atlântico Norte e passam por todo o
mundo afetam o clima. As correntes carregam água gelada até a
Antártida e até os oceanos Pacífico e Índico -onde a água é aquecida antes de voltar para o Ártico.
Por causa do aquecimento global e do derretimento do gelo ártico, a corrente pode enfraquecer e
diminuir o fluxo de água quente
na Europa, o que causaria um resfriamento no clima europeu. Ninguém sabe quais seriam os efeitos
no quadro climático mundial.
Enquanto isso, outros cientistas
-incluindo o co-diretor da expedição Jan Backman, da Universidade de Estocolmo (Suécia)-
examinarão organismos fossilizados nos sedimentos ou vivos nas
entranhas da Terra.
David Smith, um biólogo oceanográfico da Universidade de
Rhode Island, especula que pelo
menos 10% da biomassa do planeta vive sob a superfície. Ele e
outros pesquisadores usarão o
material recolhido para saber se a
vida é realmente abundante debaixo do solo como pensam.
"Não há razão para acreditar
que não há vida", disse Smith. "A
pergunta é quanto existe."
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