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CIÊNCIA
Pesquisadores estudam incidência de quatro tumores no Japão e em imigrantes e descendentes de japoneses em São Paulo
Câncer atinge mais nissei do que japonês
ÁLVARO MONTENEGRO
free-lance para a Folha
A cidade de São Paulo se transformou no laboratório de um grupo de cientistas que quer descobrir, com a ajuda do governo do Japão, como a mudança para o Brasil
transformou a saúde dos imigrantes japoneses e seus descendentes.
Um estudo vem traçando as diferenças de estilo de vida, hábitos
alimentares e a incidência de
doenças entre os japoneses residentes no Japão e os imigrantes
que moram em São Paulo.
Nos quatro tipos de câncer estudados, os imigrantes e seus descendentes são mais vulneráveis em
três, além de ter maior risco de desenvolver doenças cardíacas.
Os resultados indicam que esse
grupo apresenta nível médio de
colesterol de 214 mg/dl (miligrama
por decilitro) de sangue, cerca de
8% mais alto do que os japoneses
residentes no Japão.
Além disso, a pressão sanguínea
dos imigrantes e descendentes é
aproximadamente 6,4% mais alta,
com a média japonesa da pressão
diastólica (no momento em que
coração se dilata) em 81,82 mm/Hg
(milímetros de mercúrio) contra
87 mm/Hg dos imigrantes.
"Ainda não sabemos as causas
dessas disparidades, mas os indícios apontam para as diferenças
nos hábitos alimentares", diz Lucy
Ito, coordenadora do projeto.
Os imigrantes comem maior
quantidade de carne vermelha e
mais derivados do leite que os japoneses residentes no Japão.
A carne vermelha volta a ser a vilã, dessa vez associada ao cigarro,
na explicação dos maiores índices
de incidência de câncer de mama
nas japonesas de São Paulo.
A dieta explicaria também por
que 80,3% dos cânceres nos residentes do Japão são causados por
tumores no estômago, comparado
com 69,3% nos imigrantes.
No Japão, a população consome
menos fibras e mais sal, hábitos relacionados a esse câncer, diz Ito.
Ela afirma que uma das vantagens desse tipo de estudo é a comparação de grupos que, apesar de
geneticamente semelhantes, foram submetidos a grandes diferenças ambientais.
Dessa forma, pode-se saber com
mais segurança se uma doença está de fato associada a determinado
comportamento ou é causada por
uma predisposição genética presente em um dos grupos.
Mas a interpretação dos resultados nem sempre é tão simples. Ito
não é capaz de explicar, por exemplo, por que o câncer de próstata é
mais comum entre os imigrantes.
A situação é mais intrigante ainda no caso dos tumores do cólon
(trecho do intestino grosso), que
foram relacionados à pequena ingestão de fibras. A incidência dessa
doença é menor entre os japoneses
residentes no Japão, que comem
menos fibras que os imigrantes.
A partir desses resultados, baseados em dados oficiais do Japão e na
análise de 411 pessoas em São Paulo, um grupo formado por cientistas brasileiros e japoneses vai conduzir um estudo maior.
Coordenado pelo Centro de Pesquisa do Hospital Santa Cruz, o
projeto tem a colaboração do Centro Nacional do Câncer do Japão.
Orçado em US$ 1 milhão, o estudo
começa no próximo mês e pretende acompanhar 10 mil pessoas durante cinco anos.
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