São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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BRASIL NO ESPAÇO

Vôo de ida é controlado automaticamente e comunicações com a Terra são restritas; Pontes recebe hoje instruções sobre atividades

Brasileiro chega amanhã à estação espacial

Sergei Tchirikov/EFE
Foguete Soyuz-FG levando astronautas Marcos Pontes, Pavel Vinogradov e Jeff Williams decola da base de Baikonur, anteontem


SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A BAIKONUR

Na madrugada de amanhã, à 1h13 (horário de Brasília), a nave que transporta o astronauta Marcos Cesar Pontes à ISS (Estação Espacial Internacional) deve atracar no complexo orbital. É para acreditar, a despeito da data suspeita -1º de abril.
Por ora, Pontes e seus colegas a bordo do veículo Soyuz TMA-8, têm pouco a fazer, exceto esperar. O espaço que eles podem ocupar na nave tem cerca de dez metros cúbicos -um ambiente que só não é mais apertado porque, com a ausência de peso, os viajantes podem ocupar melhor as três dimensões do espaço.
Suas comunicações com o solo também estão severamente limitadas, uma vez que, até a atracação, os únicos contatos são feitos com o Centro de Controle da Missão, em Korolev (pronuncia-se "Karalióv"), nos arredores de Moscou. Isso quer dizer que a nave fica em silêncio de rádio toda vez que passa pelo "lado de trás" do planeta, com relação à Rússia.
Comunicações, aliás, foram o único problema do lançamento de anteontem à noite (manhã de ontem no Cazaquistão). Alguns canais de transmissão de dados técnicos pifaram, obrigando os astronautas a realizarem um pequeno conserto de emergência.
Esse quadro de tédio muda radicalmente uma vez que se chega à ISS. Lá, o controle da missão é compartilhado entre Korolev e Houston, nos EUA, de modo que a estação se mantém em contato quase permanente com a Terra.
Só então será possível, por exemplo, estabelecer as tão faladas "videoconferências" do astronauta brasileiro com o pessoal em terra. A primeira, no dia 5 de abril (pelo horário de Brasília), será conduzida no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.
Rezende voltou a defender ontem o gasto de US$ 10,5 milhões com a missão do astronauta. "Hoje estou convencido de que o que isso mobilizou na sociedade vale muito mais do que esses US$ 10 milhões", disse o ministro.
As outras duas conferências, nos dias 6 e 7 de abril, serão conduzidas na sede da AEB (Agência Espacial Brasileira), em Brasília. A primeira delas será com estudantes, a segunda com jornalistas.
A Soyuz possui um sistema muito sofisticado de atracação, que faz todo o trabalho automaticamente. No entanto, seguir essa estratégia estragaria a diversão de Pavel Vinogradov, comandante da missão e piloto da nave. É uma das únicas oportunidades que ele terá de exercer essa função, controlando manualmente a espaçonave durante a manobra.
Após a atracação, o tempo até que se possa abrir as escotilhas e efetivamente abordar a estação é de aproximadamente três horas. É o período necessário para ver se a atracação ocorreu de fato e para a equalização da pressão das atmosferas da Soyuz e da ISS.
A programação exata das atividades de Pontes a bordo da ISS -sobretudo a ordem de execução dos experimentos- deve ser transmitida ao astronauta hoje, para que ele possa começar a trabalhar tão logo chegue à estação.
Enquanto isso tudo não acontece, a instrução principal dada aos tripulantes é: sigam as recomendações médicas. Afinal, existem vários efeitos deletérios da exposição prolongada à sensação da ausência de peso -os fluidos se redistribuem pelo corpo, uma vez que o coração não precisa mais bombear o sangue com tanta força para atingir a região superior do corpo, e os viajantes perdem massa muscular e óssea. A única solução é fazer muito exercício e se alimentar bem, a despeito da falta de fome comum nesses vôos.
No caso de Vinogradov e Jeffrey Williams, que vão ficar seis meses a bordo da estação espacial, esse é um problema sério. Para Pontes, nem tanto. Ele deverá ficar duas semanas em recuperação na Rússia depois que retornar à Terra.


www.folha.com.br/060871


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