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TRANSPLANTES
Experimento americano foi feito com camundongos e macacos; testes devem levar pelo menos mais 5 anos
Droga combate rejeição sem efeito tóxico
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova droga desenvolvida
nos Estados Unidos pode melhorar muito o tratamento pós-operatório para evitar rejeição depois
de um transplante de órgão -isso se ela realmente funcionar.
A julgar pelos experimentos feitos com animais, a coisa é boa. A
substância foi capaz de desativar
de forma bastante específica a
parte do sistema imunológico responsável pela rejeição, sem prejudicar demais outros aspectos da
saúde do indivíduo.
A chave para o sucesso de um
transplante é fazer com que o organismo não reconheça o novo
órgão como um alienígena -a
despeito do fato de ele ser exatamente isso. Os vários tipos de célula combatente do sistema imunológico são responsáveis por reconhecer algo dentro do corpo
como natural ou invasor. Há células que atacam bactérias e vírus
estranhos, e outras que se concentram nos órgãos transplantados.
Boa mira
A substância desenvolvida agora por um grupo da Universidade
Stanford e da companhia farmacêutica Pfizer atua inibindo um
receptor chamado JAK3, que
existe num certo tipo de célula de
defesa mais ligado à rejeição de
órgãos, mas menos ativo nas respostas a patógenos comuns.
Em outras palavras, a pesquisa
mira no alvo certo. Apesar disso,
nada garante o sucesso. Houve
outros compostos que mostraram excelente reação ao JAK3 em
culturas de células, mas não tiveram o mesmo resultado promissor quando testados em animais.
Para mostrar que desta vez seria
diferente, os pesquisadores precisavam experimentar in vivo.
Foi o que eles fizeram, com camundongos e macacos cinomolgos. Os primeiros foram submetidos a transplantes de coração, e os
segundos, de rim. A droga, designada pela sigla CP-690,550, reagiu
bem nos dois casos, evitando a rejeição, mas sem os efeitos colaterais tóxicos típicos das drogas
mais comuns usadas atualmente.
Com macacos, foram 16 os animais submetidos ao experimento.
Quatro deles sofreram o transplante e não tomaram imunossupressores. A rejeição veio em cerca de seis dias, em média.
Para os que tomaram CP-690,550, com uma dose baixa, o
valor subiu para 62 dias. Com dose alta, 83 dias. A droga mais popular em uso hoje, o ciclosporina-A, resulta em rejeição em média
após 39 dias, seguindo a mesma
metodologia.
"Podemos dizer que ela vai tão
bem quanto, ou até melhor que
todas as drogas imunossupressoras que temos em uso hoje", disse
Dominic Borie, da Universidade
Stanford, um dos autores do estudo, em nota à imprensa.
A pesquisa original está publicada na edição de hoje da revista
norte-americana "Science"
(www.sciencemag.org).
Conclusões prematuras
Apesar disso, os médicos ainda
aconselham cautela. "Isso ainda
não foi testado em humanos",
afirma José Osmar Medina Pestana, médico da Universidade Federal de São Paulo e presidente da
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. "É superprematuro dizer que isso será uma solução viável. Por enquanto, é apenas
uma perspectiva."
Segundo o médico brasileiro, os
estudos com macacos são de pequeno alcance, pelo número limitado de animais. "No máximo 10
ou 20, o que dificulta a observação
de efeitos menores. Se há algo que
se manifesta em 2% ou 3% dos casos, você não vai ver aqui."
Ele aponta que uma longa bateria de estudos em humanos será
exigida antes que a droga possa
atingir um estágio comercial. "No
mínimo cinco anos, para que tudo isso possa ser feito", avalia.
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