São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Fenícios deixaram marcas genéticas no Mediterrâneo

Nas 56 áreas estudadas, 1 em cada 17 homens tem DNA do povo navegador "extinto'

Para pesquisador brasileiro, co-autor do estudo, testes mostram como genética pode ajudar a história a estudar o destino dos povos

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não que os historiadores precisem da genética para ratificar suas informações. Mas o sangue dos europeus e africanos que vivem na região do Mediterrâneo acaba de revelar que os fenícios, que reinaram absolutos na região entre 2.000 e 3.000 anos atrás, continuam vivendo na mesma área que eles conquistaram, após partirem de cidades do atual Líbano.
Um em cada 17 homens das zonas estudadas (veja mapa à direita) tem material genético transmitido dos fenícios, diz a pesquisa. Eles estão principalmente em Chipre, na região oeste da Sicília e no norte do Marrocos, próximo ao estreito de Gibraltar. Ao todo, 5.800 amostras, de 56 localidades mediterrâneas, foram processadas. Todas elas estão atreladas ao cromossomo Y, transmitido apenas de pai para filho.
Diz a pesquisa, publicada hoje na revista científica "American Journal of Human Genetics", que um menino em cada sala de aula desde Chipre até a Tunísia provavelmente descende diretamente dos comerciantes fenícios, classe social que mais ocupou as colônias da antiga civilização.
"Este estudo traz à vida um pedaço magnífico da nossa herança antropológica que havia sido queimado ou esquecido", disse o geneticista libanês Pierre Zalloua, um dos principais pesquisadores do Projeto Genográfico e autor do trabalho apresentado agora.
Para o brasileiro Fabrício dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, a metodologia desenvolvida pelo grupo do Projeto Genográfico, do qual ele também faz parte, é eficiente para assumir que os cromossomos isolados na pesquisa são mesmo de origem fenícia.
"É claro que há suposições. Assumimos que os registros históricos de ocorrência dos assentamentos fenícios no Mediterrâneo sejam verdadeiros. E que os povos dessas regiões com influência fenícia deixaram descendentes", disse à Folha Santos, que também é co-autor do trabalho. Todo o grupo de dezenas de cientistas esteve na Estônia para fechar os resultados publicados agora.
Para descobrir as linhagens genéticas dos fenícios - que podem até ter chegado ao Brasil, segundo alguns historiadores- os cientistas compararam o material de pessoas que moravam em zonas de influência dos fenícios com outras que nunca receberam a visita do antigo povo. Vários marcadores genéticos puderam ser identificados a partir de muitas análises estatísticas.

À prova de romanos
Os estudos genéticos apresentados agora mostram que o DNA dos fenícios sobreviveu até mesmo à histórica guerra contra os romanos, entre 149 e 146 antes de Cristo.
Cartago, que hoje estaria localizada nos arredores de Túnis (Tunísia), acabou destruída e os tempos de glória de uma das principais colônias fenícias estava encerrado.
Segundo os cientistas, o excesso de marcadores genéticos - definidos agora como fenícios- encontrados na região costeira da Tunísia, comparado com amostras do interior do país, é bastante relevante.
"Isso sugere que a destruição de Cartago pelos romanos não eliminou o grupo genético definido como "cartaginês'", afirmam os autores da pesquisa.
Apesar de a pesquisa não ser direcionada para os antigos gregos, a metodologia genética usada no estudo conseguiu encontrar um perfil genético para caracterizar esse povo também. E esses traços estão no DNA de italianos e turcos modernos.


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