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Nobel da pesquisa maluca ajuda a criticar ciência 'séria'

Estudo premiado questiona resultados duvidosos de investigação do cérebro

Vencedor do Ig Nobel de neurociência diz que, com estatística criativa, até salmão morto parece ter ideias complexas

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

O Prêmio Ig Nobel -a paródia do Nobel que elege as pesquisas científicas mais esdrúxulas- destaca neste ano descobertas como a de que chimpanzés reconhecem outros macacos olhando fotos de seus traseiros e um experimento que identificou ideias complexas no cérebro de um salmão morto.

Apesar do tom de ridículo, o segundo trabalho foi, na verdade, a denúncia de uma crise na neurociência, área em que revistas técnicas têm publicado estudos com conclusões duvidosas sobre mapeamentos cerebrais.

A lista de ganhadores tinha outros trabalhos inacreditáveis -um deles era sobre o (baixo) risco de pacientes explodirem durante colonoscopias-, e o estudo sobre a mente do peixe acabou meio ofuscado entre os vencedores anunciados ontem (veja a lista completa acima).

O experimento de Craig Bennet, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, representa bem o lema do Ig Nobel: premiar pesquisas que "primeiro fazem rir, depois fazem pensar".

Usando uma máquina de ressonância magnética para mapear o cérebro do animal morto, o cientista mostrou que, usando um pouco de estatística sem rigor para interpretar os resultados, é possível tirar qualquer conclusão.

No estudo, Bennet mostrou que o cadáver de peixe tinha empatia e apontou quais áreas de seu cérebro eram responsáveis por isso.

"Mostramos ao salmão uma série de fotografias com humanos em situações sociais de valor emocional específico", diz o estudo. "Pedíamos ao salmão para determinar quais emoções o indivíduo estaria sentindo."

A parte do estudo de Bennet que não tinha graça nenhuma era um levantamento sobre o panorama atual da pesquisa com ressonância magnética funcional (que vê a atividade do cérebro em tempo real). Em um ano, 26% dos artigos científicos estavam se valendo do mesmo método estatístico que ele mostrou ser frágil. Numa conferência, 79% dos trabalhos tinham esse problema.

Isso explica, em parte, a proliferação de estudos atribuindo funções ultraespecíficas a partes do cérebro.

A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu ontem, no teatro da prestigiada Universidade Harvard (EUA).

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