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O faminto André Barcinski

Comida sem frescura

Salvem a geleia lituana!

Se não fosse pelos cartazes com motivos lituanos, ninguém diria que aquele era um bar da colônia

Há muito tempo eu ouvia falar do Bar do Vito, o "boteco lituano da Vila Zelina". Cansei de ouvir amigos elogiando a koslina, uma geleia de carne de vaca e porco tradicionalíssima na Lituânia.

Há alguns domingos, tomei vergonha na cara e rumei com um amigo para a zona leste. Antes, pesquei algumas informações sobre o bar no ótimo Guia da Mooca (www.guiadamooca.com.brwww.guiadamooca.com.br).

Segundo o site, o Bar do Vito (av. Zelina, 851, tel. 0/xx/11/2341-6994), fundado em 1944, é o mais antigo estabelecimento da região e um verdadeiro centro de preservação da culinária de boteco lituana. Minha empolgação só aumentou.

Chegamos na hora do almoço. Não havia mais de dez pessoas no lugar, oito delas na mesma mesa, falando de futebol. O clima não era dos mais animados.

Fui logo pedindo a koslina. "Não tem", disse o balconista. "A gente só faz quando pedem."

Fiquei desnorteado. Quer dizer que, no mais famoso bar lituano de São Paulo, em pleno domingão de sol, ninguém pede a koslina? "É isso mesmo", respondeu o moço. "Hoje só saiu coxinha de galinha!"

Perguntei que pratos lituanos havia no cardápio. "Só tem pepino azedo e salsicha." Pedi os dois, com um pãozinho preto, por favor. "Pão preto não tem, ninguém pediu e a gente não buscou na padaria."

Nem sinal das cervejas lituanas, do virtiniai, um ravióli recheado com carne ou queijo, ou do krupnikas, um licor de mel lituano.

Saí de lá triste. Achei que teria uma experiência gastronômica inédita e faria um mergulho numa cultura nova para mim, mas acabei testemunhando mais uma vitória da mesmice. Se não fosse pelos cartazes com motivos lituanos, ninguém diria que era um bar da colônia.

Será que estamos condenados a ver lugares como esses desaparecem, vítimas da ditadura do hambúrguer e das temakerias?

"Da próxima vez que vier, ligue antes e encomende que faço a koslina", disse o balconista, ao ver minha decepção. Prometo que volto.

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"A Gourmet", de Alexandra Forbes

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