São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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ARQUITETURA

Além de possibilitar vazios maiores sob as lajes, uso do material propicia ganho de tempo e obra mais limpa

Avanço do aço nas estruturas é concreto

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Brasil sempre cultivou o modo mediterrâneo de arquitetura, sólido e de paredes de concreto largas e maciças. Só agora a cultura do cimento começa a mudar, com a abertura do setor da construção civil às estruturas metálicas. O sistema já conquistou até a Caixa Econômica Federal, que admite financiar casas de metal.
Consagrado no país como uma solução para grandes galpões industriais, o sistema começa a aparecer com mais frequência em prédios residenciais e em casas.
As vantagens sobre o concreto, dizem os especialistas, são muitas. E começam pela industrialização da obra, responsável pela redução de até 40% no cronograma e pela utilização de tecnologia limpa.
É possível tocar reformas e ampliações em edificações existentes sem que o morador precise conviver com entulho. Além disso, no canteiro de uma obra metálica, o desperdício fica próximo de zero (na convencional, chega a 30%).
"O uso ainda é pequeno porque o domínio do concreto no Brasil é imenso", justifica o arquiteto Caio Bacci Marin, 31.
Tudo é feito fora do canteiro de obras. "Um casa de alto padrão que fiz vai "pousar" no terreno só depois do paisagismo", conta o arquiteto Siegbert Zanettini, sócio da Abcem (Associação Brasileira da Construção Metálica) e professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
A obra é uma sucessão de montagens e talvez por isso as diferenças mais sentidas entre os canteiros de obras de concreto e de metal sejam os pesos e volumes muito menores -pesam 10% de suas correspondentes em concreto.
Não pode ser esquecido no cálculo que a estrutura metálica forma um "esqueleto" que pode balançar se não for feita uma amarração nela ou em estruturas de concreto, alertam a engenheira Heloisa Martins Maringoni e o engenheiro Cassio Freire Loschiavo, da construtora Contrato.

Mão-de-obra
Zanettini explica que obras em encostas de morros e no litoral são perfeitas para a estrutura metálica, pois o aço vai sem dificuldades até a profundidade necessária para garantir a estabilidade da construção. "Além disso, hoje usamos o aço patinável (anticorrosivo), feito de ligas que aguentam água do mar, chuva e vento."
Outro diferencial das estruturas metálicas é a grande precisão das juntas e folgas. Na obra de aço, os erros não ultrapassam dois milímetros, enquanto é comum haver descompassos de até três centímetros nas obras de concreto.
Para Zanettini, o cliente da estrutura metálica também ganha nos custos da mão-de-obra. "O fato de o sistema economizar tempo diminui os honorários."
Segundo ele, entretanto, o custo final da obra pode "empatar" com o da construção de concreto, conforme o padrão de acabamento.
A engenharia diz que a estrutura metálica sai de 7% a 10% mais cara do que a de concreto. "A melhor opção, então, é a construção mista, que retenha o melhor do aço e o melhor do concreto", argumenta o engenheiro Loschiavo.
Os arquitetos Ararê Sennes, 33, e Caio Bacci Marin, do escritório Vista Urbana, usaram pilares e vigas metálicas para levantar mais um piso numa casa. "Tiramos o telhado numa semana e, na outra, já estávamos colocando o aço", completa Sennes.
A decoradora Bianka Mugnatto, 39, usou o aço no teto retrátil de uma cobertura. "O maior desafio foi a vedação das emendas e do travamento, que põe por água abaixo projetos mal calculados."
Os interessados no assunto podem ter um raio-X do setor de estruturas metálicas entre os dias 11 e 13 de novembro, no Frei Caneca Shopping Center & Convention Center, em São Paulo, durante o 2º Cicom -Congresso Internacional da Construção Metálica. (NATHALIA BARBOZA)


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